Língua Portuguesa
Patriotismo linguístico
É um lugar-comum
dizer que as palavras da língua têm uma origem múltipla. Os mais patriotas
erroneamente costumam afirmar que o português “é a língua mais rica de todas”,
porque “no Brasil há pessoas de todos os lugares do mundo”. Esse patriotismo é
exagerado e ingênuo, para não dizermos errôneo. A Inglaterra e a França abrigam
hoje uma variedade muitíssimo maior de línguas do que o Brasil, faladas por
imigrantes de ex-colônias nos quatro cantos do mundo. Os EUA e a Austrália não
ficam atrás, por serem pólos econômicos. Em outros tempos, o Brasil teve, de
fato, um grande afluxo de italianos, espanhóis, sírio-libaneses, alemães e
japoneses (e poloneses e ucranianos). Contudo, são raras as regiões brasileiras
que preservam entre os descendentes algum dialeto minoritário vivo. A língua
portuguesa, por isso, é considerada por muitos a única do Brasil, afirmação que
nada mais revela que o desprezo político-ideológico pelas minorias linguísticas.
Os próprios falantes de línguas minoritárias acabam por circunscrever sua
expressão aos familiares, particularmente aos mais idosos, e, com a morte
deles, bilíngues ativos acabam tornando- -se bilíngues virtuais, ou seja, monolíngues
com um tesouro em estado passivo pouco ou nunca explorado pela investigação linguística.
Exceto por artificialismo alavancado por uma espécie de xenofobia linguística,
disfarçada de orgulho nacional (como é o caso do islandês ou do letão), o
léxico de uma língua é um caldeirão de palavras de origem variada. E tem sido
assim sempre. Conhecer essas múltiplas facetas da sociedade brasileira e
descrever sua expressão linguística são passos metodológicos dos quais a
etimologia da língua portuguesa não pode prescindir e algo muito mais
interessante do que a pregação demagógica e irrefletida do normativismo, que,
ao fim e ao cabo, se revela sem brilho, sem graça, estéril e niveladora.
Disponível em:
http://revistalingua.uol.com.br/textos/96/patriotismo-linguístico-298630-1.asp
[Adaptado] Acesso em 15/fev/2016.
O texto é de caráter opinativo, em que o autor emite seu
ponto de vista em relação ao tema desenvolvido.
O texto tece críticas aos posicionamentos normativistas e
xenófobos que desconsideram a formação plural do léxico da língua portuguesa.
Depreende-se do texto que a riqueza econômica de um país
pode torná-lo linguisticamente plural, uma vez que atrai novos imigrantes de
diferentes nacionalidades.
O Brasil já foi um
país multilíngue e, diferentemente dos EUA e da Austrália, vive uma realidade
praticamente monolíngue, o que explica a xenofobia de alguns.
No primeiro parágrafo, a frase “Esse patriotismo é exagerado
e ingênuo, para não dizermos errôneo” poderia ser reescrita, sem prejuízo
gramatical e de sentido, como “Esse patriotismo é exagerado e ingênuo, se não
errôneo.”
No enunciado “Em
outros tempos, o Brasil teve, de fato, um grande afluxo de italianos […]”, a
expressão sublinhada funciona como adjunto adverbial e poderia ser substituída,
sem prejuízo gramatical e de sentido, por “realmente”.
Em “A língua portuguesa, por isso, é considerada por muitos
a única do Brasil, afirmação que nada mais revela que o desprezo político-
-ideológico pelas minorias linguísticas.”, a construção sublinhada pode ser
substituída por “só revela”, sem prejuízo do sentido da frase. No último
parágrafo, a expressão “ao fim e ao cabo” exprime uma ideia de conclusão,
podendo ser substituída por “afinal”.
Na oração “o léxico de uma língua é um caldeirão de palavras
de origem variada” o predicado é nominal.
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