sexta-feira, 1 de abril de 2016

                           Língua Portuguesa

                                                                   
                                                     Patriotismo linguístico

 É um lugar-comum dizer que as palavras da língua têm uma origem múltipla. Os mais patriotas erroneamente costumam afirmar que o português “é a língua mais rica de todas”, porque “no Brasil há pessoas de todos os lugares do mundo”. Esse patriotismo é exagerado e ingênuo, para não dizermos errôneo. A Inglaterra e a França abrigam hoje uma variedade muitíssimo maior de línguas do que o Brasil, faladas por imigrantes de ex-colônias nos quatro cantos do mundo. Os EUA e a Austrália não ficam atrás, por serem pólos econômicos. Em outros tempos, o Brasil teve, de fato, um grande afluxo de italianos, espanhóis, sírio-libaneses, alemães e japoneses (e poloneses e ucranianos). Contudo, são raras as regiões brasileiras que preservam entre os descendentes algum dialeto minoritário vivo. A língua portuguesa, por isso, é considerada por muitos a única do Brasil, afirmação que nada mais revela que o desprezo político-ideológico pelas minorias linguísticas. Os próprios falantes de línguas minoritárias acabam por circunscrever sua expressão aos familiares, particularmente aos mais idosos, e, com a morte deles, bilíngues ativos acabam tornando- -se bilíngues virtuais, ou seja, monolíngues com um tesouro em estado passivo pouco ou nunca explorado pela investigação linguística. Exceto por artificialismo alavancado por uma espécie de xenofobia linguística, disfarçada de orgulho nacional (como é o caso do islandês ou do letão), o léxico de uma língua é um caldeirão de palavras de origem variada. E tem sido assim sempre. Conhecer essas múltiplas facetas da sociedade brasileira e descrever sua expressão linguística são passos metodológicos dos quais a etimologia da língua portuguesa não pode prescindir e algo muito mais interessante do que a pregação demagógica e irrefletida do normativismo, que, ao fim e ao cabo, se revela sem brilho, sem graça, estéril e niveladora.

Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/96/patriotismo-linguístico-298630-1.asp [Adaptado] Acesso em 15/fev/2016.



O texto é de caráter opinativo, em que o autor emite seu ponto de vista em relação ao tema desenvolvido.

O texto tece críticas aos posicionamentos normativistas e xenófobos que desconsideram a formação plural do léxico da língua portuguesa.

Depreende-se do texto que a riqueza econômica de um país pode torná-lo linguisticamente plural, uma vez que atrai novos imigrantes de diferentes nacionalidades.

 O Brasil já foi um país multilíngue e, diferentemente dos EUA e da Austrália, vive uma realidade praticamente monolíngue, o que explica a xenofobia de alguns.

No primeiro parágrafo, a frase “Esse patriotismo é exagerado e ingênuo, para não dizermos errôneo” poderia ser reescrita, sem prejuízo gramatical e de sentido, como “Esse patriotismo é exagerado e ingênuo, se não errôneo.”

No enunciado “Em outros tempos, o Brasil teve, de fato, um grande afluxo de italianos […]”, a expressão sublinhada funciona como adjunto adverbial e poderia ser substituída, sem prejuízo gramatical e de sentido, por “realmente”.

Em “A língua portuguesa, por isso, é considerada por muitos a única do Brasil, afirmação que nada mais revela que o desprezo político- -ideológico pelas minorias linguísticas.”, a construção sublinhada pode ser substituída por “só revela”, sem prejuízo do sentido da frase.  No último parágrafo, a expressão “ao fim e ao cabo” exprime uma ideia de conclusão, podendo ser substituída por “afinal”.


Na oração “o léxico de uma língua é um caldeirão de palavras de origem variada” o predicado é nominal.

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