Eu também já fui brasileiro moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde e aprendi na mesa dos bares que o
nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes
se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher, pensava logo nas estrelas e outros
substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho, minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam, meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não, não sou irônico mais não, não
tenho ritmo mais não.
(Carlos Drummond de Andrade)
Compreendendo o texto:
No poema Também já fui brasileiro, o poeta
encontra-se decepcionado por ter perdido
suas convicções.
No
verso – minha poesia perturbou-se –,
o verbo destacado pode ser substituído, sem alteração de sentido, por desorientou-se.
Ao se substituir no trecho –
satisfeito de ter meu ritmo – a
expressão destacada por um pronome, a reescrita correta, de acordo com a
norma-padrão da língua portuguesa, é satisfeito
de tê-lo.
Eu também já fui brasileiro,
moreno como vocês, e ponteei viola. Nesta frase a
pontuação foi empregada corretamente,de acordo com a norma-padrão da língua
portuguesa.
Nos versos – Hoje não deslizo mais não, não sou irônico
mais não, não tenho ritmo mais não.
–, a repetição do termo destacado reforça
a negação.
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