Moacir Gadotti apresenta três concepções que acompanharam a
educação brasileira ao longo do século XX: concepção metafísica, dialética e
tecnoburocrática. Pode-se explicar a concepção dialética da educação
identificada com a ideia de que a
formação do homem se dá pela elevação da consciência coletiva realizada
concretamente no processo de trabalho que cria o próprio homem.
A concepção metafísica é uma palavra com origem no grego e que significa "o
que está para além da física". É uma doutrina que busca o conhecimento
da essência das
coisas.
O termo metafísica foi consagrado por Andrônico de Rodes a partir da ordenação
dos livros aristotélicos referidos à ciência dos primeiros princípios e
primeiras causas do ser.
Para Aristóteles a
metafísica é, simultaneamente, ontologia, filosofia e teologia, na medida em
que se ocupa do ser supremo dentro da hierarquia dos seres. Neste sentido, foi
recolhida pela filosofia tradicional até Kant, que se interrogou sobre a
possibilidade da metafísica como ciência.
A interpretação da
metafísica como estudo do "sobrenatural" é de origem neoplatônica. A
tradição escolástica identificou o objeto de estudo da metafísica com o da
teologia, ainda que tenha distinguido as duas pelos métodos usados: para
explicar Deus, a metafísica recorre à razão e a teologia à revelação.
Na Idade Moderna,
ocorre uma clara separação entre a concepção aristotélica e a neoplatônica: a
metafísica como ontologia se converte em teoria das categorias, teoria do
conhecimento e teoria da ciência (epistemologia); como ciência do
transcendental, se converte em teoria da religião e das concepções do mundo.
No século XVIII a
metafísica era considerada equivalente a uma explicação racional da realidade e
no século XIX à pura especulação perante o caráter positivo das ciências. A
partir de Heidegger e Jaspers, os pensadores interessados na problemática do
ser se esforçaram por elaborar uma noção de metafísica factível e atual.
A
obra A Fundamentação da Metafísica dos
Costumes, da autoria de Kant (um importante nome no estudo da
metafísica) aborda a problemática da moralidade humana.
A CONCEPÇÃO DIALÉTICA DE EDUCAÇÃO
1. CONCEITO DE DIALETICA. A
dialética é uma Filosofia porque implica uma concepção do homem, da sociedade e da relação homem-mundo. É também
um método de conhecimento. Na Grécia
antiga a dialética signficava "arte do diálogo". Desde suas origens
mais antigas a dialética estava relacionada com as discussões sobre a questão
do movimento, da transformação das coisas. A dialética percebe o mundo como uma
realidade em contínua transformação. Em tudo o que existe há uma contradição interna. (Por exemplo,
numa sociedade há forças conservadoras interessadas em manter o sistema social
vigente, e há forças emancipadoras). Essas forças são inter-dependentes e estão em luta. Essa luta força o movimento, a
transformação de ambos os termos contrários em um terceiro termo. No terceiro
termo ha superação do estar-sendo anterior.
2. CONDICOES HISTORICAS . A
dialética é muito antigo podendo ser reportada a sete séculos antes de Cristo.
Sócrates (469-399 A.C.) é considerado o maior dialético grego. No séc. XIX,
Hegel e Karl Marx revivem a dialética e a partir deles novos autores têm
retomado e ampliado a questão da dialética. A dialética como fundamentação
filosófica e metodológica da Educação existiu desde os tempos antigos, mas não
como concepção dominante. Prevaleceu ao longo da História uma concepção
tradicionalista e metafísica de Educação. (Metafísica: teoria abstrata,
desvinculada da realidade concreta, com uma visão estática de mundo). Essa
concepção tradicional correspondia ao interesse das classes dominantes, clero e
nobreza, de impedir transformações Como as transformações radicais da sociedade
só interessam às classes desprivilegiadas compete a essas a retomada da
dialética. Assim é que o projeto pedagógico da classe trabalhadora foi
elaborado por ocasião de revolta dos trabalhadores na França ("Comuna de
Paris", 1871), assumida rapidamente pelo poder burguês. O projeto
pedagógico da classe trabalhadora é hoje revivido na luta dos trabalhadores em
vários pontos do mundo. A concepção
dialética de Educação supõe, pois, a luta pelo direito da classe trabalhadora à
Educação, e esige ainda, a participação na luta pela mudança radical das suas
condições de existência. A concepção dialética sempre foi reprimida pelo poder
dominante, mas resistindo aos obstáculos, ela vai conquistando espaço. Ainda
não está estruturada, está se fazendo. A todo educador progresista-dialético
uma tarefa se coloca: a de contribuir
com essa construção: sistematizar a
teoria e a prática dialética de educação.
3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é
sujeito, agente do processo histórico. "A História nos faz, refaz e é
feito por nós continuamente". (Paulo Freire).
4. IDEAL DE HOMEM. A educação
dialética visa a construção do homem histórico, compromissado com as tarefas do
seu tempo: participar do projeto de construção de uma nova realidade social.
Busca a realização plena de todos os homens e acredita que isto não será
possível dentro do modelo capitalista de sociedade. Sendo assim se coloca numa perspectiva transformadora da realidade. O
homem dessa outra realidade não será mais o homem unilateral, excluido dos
bens sociais, explorado no trabalho, mas será um homem bovo, o homem total": "É o chegar
histórico do homem a uma totalidade de capacidade, a uma totalidade de
possibilidade de consumo e gozo, podendo usufruir bens espirituais e
materiais" (Moacir Gadotti).
5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de
classes, a educação tem uma função política de criar as condições necessárias à
hegemonia da classe trabalhadora. Hegemonia implica o direito de todos participarem efetivamente da condução da
sociedade, poder decidir sobre sua vida social; supõe direção cultural, política ideológica. As
condições para hegemonia dos trabalhadores passam pela apropriação da
capacidade de direção. A Educação é projeto
e processo. Seu projeto histórico é explícito: criação de uma nova hegemonia, a da classe trabalhadora. O ato educativo, cotidiano não é um ato
isolado mas integrado num projeto social
e global de luta da classe trabalhadora. A educação dialética é processo
de formação e capacitação: apropriação das capacidades de organização e direção, fortalecimento da consciência de classe para intervir de modo criativo, de modo
organizado, na transformação estrutural da sociedade."Essa educação é
libertadora na medida em que tiver como objetivo a ação e reflexão consciente e criadora das classes oprimidas
sobre seu próprio processo de libertação."(Paulo Freire).
CONCEPÇÃO TÉCNICO-BUROCRÁTICA DA EDUCAÇÃO
1. ORIGEM HISTORICA - Esta
concepção é também conhecida como concepção
TECNICISTA. . Penetrou nos meios
educacionais a partir dos meados do séc. XX (1950) com o avanço dos modelos de
organização EMPRESARIAL .Representa a introdução do modelo capitalista
empresarial na escola.
2. CONCEPÇÃO DE HOMEM - É um ser
condicionado pelo meio físico-social.
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem
produtivo e adaptado à sociedade.
4. FUNÇÃO DA EDUCACÃO - É
modeladora, modificadora do comportamento humano previsto. Educação é adaptação do indivíduo à sociedade.
5. ESCOLA - Deve ser uma
comunidade harmoniosa. Todo problema deve ser resolvido administrativamente. O
administrativo e o pedagógico são departamentos separados.
6. EDUCADOR - É um especialista,
já possue o saber. Quem possue saber são os cientistas, os especialistas. Esses
produzem a cultura. Esses é que deverão comandar os demais homens. Eles
produziram a teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os especialistas é que devem planejar, decidir e levar os demais a
cumprirem as ordens, e executar o fazer pedagógico. A equipe de comando técnico
deve fiscalizar o cumprimento das ordens.
7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL -
Valoriza a hierarquia, ordem, a
impessoalidade, as normas fixas e precisas, o pensamento convergente, a
uniformidade, a harmonia.
8. CONTEUDO - Supervaloriza o conhecimento
técnico-profissional, enfatiza o
saber pronto provindo das fontes
culturais estrangeiros, super desenvolvidas.
9. PROCEDIMENTO PEDAGOGICO -
Enfatiza a técnica, o saber-fazer sem
discutir a questão dos valores envolvidos. Privilegia o saber técnico, os métodos individualizantes na
obtenção do conhecimento. Enfatiza a objetividade,
mensuração rigorosa dos resultados, a eficiência dos meios para alcançar o resultado final
previsto. Tudo é previsto, organizado,
controlado pela equipe de comando.
10. DISCIPLINA - A indisciplina
deve ser corrigida utilizando reforçamentos de preferência positivos
(recompensas, prêmios, promoções profissionais).
11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE -
Nesta concepção de Educação predomina a função reprodutiva do modelo social. As
relações capitalistas se manifestam no trabalho pedagógico de modos diversos e
complementares: a) pela expropriação
do saber do professor pelos "planejadores"
ou pelo programas e máquinas
importadas. b) pela crescente
proletarização do professor arrocho
salarial para manutenção dos lucros. c) pela contenção de despesas e de
investimento na qualidade de ensino e na formação do educador, buscando mínimos
gastos e máximos lucros para os proprietários da instituição. d) pela
preocupação exclusiva com a formação técnico-profissional necessária à preparação
da mão-de-obra coerente com as
exigências do mercado de trabalho. e) pelo uso da tecnologia à serviço do capital : redução da mão-de-obra
remunerada.
12. CONTRADIÇÃO BÁSICA . Há bases
materiais, concretas que sustentam a concepção tecnoburocrática de Educação.
Mas a própria dominação gera o seu contrário: a resistência, a luta. A
proletarização do professor tem sido a base material que tem levado a categoria
dos docentes a sair de seus movimentos reivindicatórios corporativistas para
unir suas forças à dos proletários. A luta do educador é mais ampla: do nível
da luta interna na instituição escolar e junto à categoria profissional à luta social contra o sistema que tem gerado
esta Educação.
Bibliografia:
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o bloco histórico.
RJ, Paz e Terra, 1987.
-
SNYDERS, Jeorgens et alli. Correntes atuais da pedagogia, Lisboa, Livros
Horizonte, 1984.
-
SUCHODOLSKY, Bogdan. A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas. 3a. ed.
Lisboa,
Livros Horizonte, 1984.
Bons Estudos!
7
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