segunda-feira, 18 de abril de 2016

Moacir Gadotti e as três concepções da educação brasileira



Moacir Gadotti apresenta três concepções que acompanharam a educação brasileira ao longo do século XX: concepção metafísica, dialética e tecnoburocrática. Pode-se explicar a concepção dialética da educação identificada com a ideia de que  a formação do homem se dá pela elevação da consciência coletiva realizada concretamente no processo de trabalho que cria o próprio homem.

A concepção metafísica  é uma palavra com origem no grego e que significa "o que está para além da física". É uma doutrina que busca o conhecimento da essência das coisas.


O termo metafísica foi consagrado por Andrônico de Rodes a partir da ordenação dos livros aristotélicos referidos à ciência dos primeiros princípios e primeiras causas do ser.
Para Aristóteles a metafísica é, simultaneamente, ontologia, filosofia e teologia, na medida em que se ocupa do ser supremo dentro da hierarquia dos seres. Neste sentido, foi recolhida pela filosofia tradicional até Kant, que se interrogou sobre a possibilidade da metafísica como ciência.
A interpretação da metafísica como estudo do "sobrenatural" é de origem neoplatônica. A tradição escolástica identificou o objeto de estudo da metafísica com o da teologia, ainda que tenha distinguido as duas pelos métodos usados: para explicar Deus, a metafísica recorre à razão e a teologia à revelação.
Na Idade Moderna, ocorre uma clara separação entre a concepção aristotélica e a neoplatônica: a metafísica como ontologia se converte em teoria das categorias, teoria do conhecimento e teoria da ciência (epistemologia); como ciência do transcendental, se converte em teoria da religião e das concepções do mundo.
No século XVIII a metafísica era considerada equivalente a uma explicação racional da realidade e no século XIX à pura especulação perante o caráter positivo das ciências. A partir de Heidegger e Jaspers, os pensadores interessados na problemática do ser se esforçaram por elaborar uma noção de metafísica factível e atual.
A obra A Fundamentação da Metafísica dos Costumes, da autoria de Kant (um importante nome no estudo da metafísica) aborda a problemática da moralidade humana.

                            A  CONCEPÇÃO DIALÉTICA DE EDUCAÇÃO                                   


1. CONCEITO DE DIALETICA. A dialética é uma Filosofia porque implica uma concepção do homem, da sociedade e da relação homem-mundo. É também um método de conhecimento. Na Grécia antiga a dialética signficava "arte do diálogo". Desde suas origens mais antigas a dialética estava relacionada com as discussões sobre a questão do movimento, da transformação das coisas. A dialética percebe o mundo como uma realidade em contínua  transformação. Em tudo o que existe há uma contradição interna. (Por exemplo, numa sociedade há forças conservadoras interessadas em manter o sistema social vigente, e há forças emancipadoras). Essas forças são inter-dependentes e estão em luta. Essa luta força o movimento, a transformação de ambos os termos contrários em um terceiro termo. No terceiro termo ha superação  do estar-sendo anterior.

2. CONDICOES HISTORICAS . A dialética é muito antigo podendo ser reportada a sete séculos antes de Cristo. Sócrates (469-399 A.C.) é considerado o maior dialético grego. No séc. XIX, Hegel e Karl Marx revivem a dialética e a partir deles novos autores têm retomado e ampliado a questão da dialética. A dialética como fundamentação filosófica e metodológica da Educação existiu desde os tempos antigos, mas não como concepção dominante. Prevaleceu ao longo da História uma concepção tradicionalista e metafísica de Educação. (Metafísica: teoria abstrata, desvinculada da realidade concreta, com uma visão estática de mundo). Essa concepção tradicional correspondia ao interesse das classes dominantes, clero e nobreza, de impedir transformações Como as transformações radicais da sociedade só interessam às classes desprivilegiadas compete a essas a retomada da dialética. Assim é que o projeto pedagógico da classe trabalhadora foi elaborado por ocasião de revolta dos trabalhadores na França ("Comuna de Paris", 1871), assumida rapidamente pelo poder burguês. O projeto pedagógico da classe trabalhadora é hoje revivido na luta dos trabalhadores em vários pontos do mundo.  A concepção dialética de Educação supõe, pois, a  luta pelo direito da classe trabalhadora à Educação, e esige ainda, a participação na luta pela mudança radical das suas condições de existência. A concepção dialética sempre foi reprimida pelo poder dominante, mas resistindo aos obstáculos, ela vai conquistando espaço. Ainda não está estruturada, está se fazendo. A todo educador progresista-dialético uma tarefa se coloca:  a de contribuir com essa construção: sistematizar a teoria e a prática dialética de educação.

3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é sujeito, agente do processo histórico. "A História nos faz, refaz e é feito por nós continuamente". (Paulo Freire).

4. IDEAL DE HOMEM. A educação dialética visa a construção do homem histórico, compromissado com as tarefas do seu tempo: participar do projeto de construção de uma nova realidade social. Busca a realização plena de todos os homens e acredita que isto não será possível dentro do modelo capitalista de sociedade. Sendo assim se coloca numa  perspectiva transformadora da realidade. O homem dessa outra realidade não será mais o homem unilateral,  excluido dos bens sociais, explorado no trabalho, mas será um homem bovo, o homem total": "É o chegar histórico do homem a uma totalidade de capacidade, a uma totalidade de possibilidade de consumo e gozo, podendo usufruir bens espirituais e materiais" (Moacir Gadotti).

5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de classes, a educação tem uma função política de criar as condições necessárias à hegemonia da classe trabalhadora. Hegemonia implica o direito de  todos  participarem efetivamente da condução da sociedade, poder decidir sobre sua vida social; supõe direção cultural, política ideológica. As condições para hegemonia dos trabalhadores passam pela apropriação da capacidade de direção. A Educação é projeto e processo. Seu projeto histórico é explícito: criação de uma nova hegemonia, a da classe trabalhadora.  O ato educativo, cotidiano não é um ato isolado mas integrado num projeto social e global de luta da classe trabalhadora. A educação dialética é  processo de formação e capacitação: apropriação das capacidades de organização e direção, fortalecimento da consciência de classe  para intervir de modo criativo, de modo organizado, na transformação estrutural da sociedade."Essa educação é libertadora na medida em que tiver como objetivo a  ação e reflexão  consciente e criadora das classes oprimidas sobre seu próprio processo de libertação."(Paulo Freire).

                                         CONCEPÇÃO TÉCNICO-BUROCRÁTICA DA EDUCAÇÃO


1. ORIGEM HISTORICA - Esta concepção é também conhecida como concepção  TECNICISTA.   . Penetrou nos meios educacionais a partir dos meados do séc. XX (1950) com o avanço dos modelos de organização EMPRESARIAL .Representa a introdução do modelo capitalista empresarial na escola.

2. CONCEPÇÃO DE HOMEM - É um ser condicionado pelo meio físico-social.

3. IDEAL DE HOMEM - É o homem produtivo e adaptado à sociedade.

4. FUNÇÃO DA EDUCACÃO - É modeladora, modificadora do comportamento humano previsto. Educação é adaptação do indivíduo à sociedade.

5. ESCOLA - Deve ser uma comunidade harmoniosa. Todo problema deve ser resolvido administrativamente. O administrativo e o pedagógico são departamentos separados.

6. EDUCADOR - É um especialista, já possue o saber. Quem possue saber são os cientistas, os especialistas. Esses produzem a cultura. Esses é que deverão comandar os demais homens. Eles produziram a teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os especialistas é que devem planejar, decidir e levar os demais a cumprirem as ordens, e executar o fazer pedagógico. A equipe de comando técnico deve fiscalizar o cumprimento das ordens.

7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL - Valoriza a hierarquia, ordem, a impessoalidade, as normas fixas e precisas, o pensamento convergente, a uniformidade, a harmonia.

8. CONTEUDO - Supervaloriza o conhecimento técnico-profissional, enfatiza  o saber pronto provindo das fontes culturais estrangeiros, super desenvolvidas.

9. PROCEDIMENTO PEDAGOGICO - Enfatiza a técnica, o saber-fazer sem discutir a questão dos valores envolvidos. Privilegia o saber técnico, os métodos individualizantes na obtenção do conhecimento. Enfatiza a objetividade, mensuração rigorosa dos resultados, a eficiência  dos meios para alcançar o resultado final previsto. Tudo é previsto, organizado, controlado pela equipe de comando.

10. DISCIPLINA - A indisciplina deve ser corrigida utilizando reforçamentos de preferência positivos (recompensas, prêmios, promoções profissionais).

11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE - Nesta concepção de Educação predomina a função reprodutiva do modelo social. As relações capitalistas se manifestam no trabalho pedagógico de modos diversos e complementares: a) pela expropriação do saber do professor pelos "planejadores" ou pelo programas e máquinas importadas.   b) pela crescente proletarização do professor  arrocho salarial para manutenção dos lucros.  c) pela contenção de despesas e de investimento na qualidade de ensino e na formação do educador, buscando mínimos gastos e máximos lucros para os proprietários da instituição.  d) pela preocupação exclusiva com a formação  técnico-profissional necessária à preparação da mão-de-obra coerente com as exigências do mercado de trabalho.  e) pelo uso da tecnologia à serviço do capital : redução da mão-de-obra remunerada.
12. CONTRADIÇÃO BÁSICA . Há bases materiais, concretas que sustentam a concepção tecnoburocrática de Educação. Mas a própria dominação gera o seu contrário: a resistência, a luta. A proletarização do professor tem sido a base material que tem levado a categoria dos docentes a sair de seus movimentos reivindicatórios corporativistas para unir suas forças à dos proletários. A luta do educador é mais ampla: do nível da luta interna na instituição escolar e junto à categoria profissional  à luta social contra o sistema que tem gerado esta Educação.
      

Bibliografia:

 PORTELLI, Hugues. Gramsci e o bloco histórico. RJ, Paz e Terra, 1987.
                - SNYDERS, Jeorgens et alli. Correntes atuais da pedagogia, Lisboa, Livros Horizonte, 1984.
                - SUCHODOLSKY, Bogdan. A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas. 3a. ed. Lisboa,

                   Livros Horizonte, 1984. 

Bons Estudos!
7
Se desejar contribuir fique à vontade

Caixa: 1498 013 00009263-4

Santander: 3076  01067197-1
79
Obrigada!

CPF: 79654487500

Um comentário: