Mênon: —
Seja, Sócrates! Entretanto, o que é que te leva a dizer que nada aprendemos e
que o que chamamos de saber nada mais é do que recordação? Poderias provar-me
isso?
Sócrates: —
Não faz muito, excelente Mênon, que te chamei de habilidoso! Perguntas se te
posso ensinar, quando agora mesmo afirmei claramente que não há ensino, mas
apenas reminiscência; estás procurando precipitar-me em contradição comigo
mesmo!
Mênon: —
Não, por Zeus, caro Sócrates! Não foi com essa intenção que fiz a pergunta, mas
apenas levado pelo hábito. Todavia, se te é possível mostrar-me de qualquer
modo que as coisas de fato se passam assim como o dizes, demonstra-mo, pois
esse é o meu desejo!
Sócrates: —
Não é uma tarefa fácil o que pedes; fá-la-ei, entretanto, de boa vontade, por
se tratar de ti. Chama a qualquer um dos escravos que te acompanham, qualquer
um que queiras, a fim de que por meio dele eu possa fazer a demonstração que
pedes.
Mênon: — Com prazer. (Dirigindo-se a um de
seus escravos moços): Aproxima-te!
Sócrates: —
Ele é grego e fala grego?
Mênon: —
Sim; nasceu em minha casa.
Sócrates: —
Então, caro Mênon, presta bem atenção, e examina com cuidado se o que ele faz
com meu auxílio é recordar-se ou aprender.
Mênon: —
Observarei com cuidado.
(Diálogos de Platão – Mênon)
1-A partir
do texto citado, é CORRETO afirmar que:
no processo
de conhecimento denominado maiêutica, a pergunta e a resposta têm importância
equivalente.
2-Nas
modernas pesquisas sobre o papel e o lugar dos Sofistas na filosofia grega,
principalmente depois dos trabalhos pioneiros de William Guthrie, a valoração
desse personagem tem se alterado, principalmente no que tange à critica aos
limites da dialética na obtenção da verdade. Acerca disso, podemos afirmar que:
Os sofistas,
apesar de serem criticados durante muito tempo nos diversos autores da História
da Filosofia, constituíram-se em personagens indispensáveis para o
questionamento do processo do conhecimento. Os sofistas, com seus
questionamentos pertinentes, apresentam os limites da dialética no seu afã de
busca da verdade.
3-Caso seja
levado em consideração que o termo filósofo não designa uma identidade – aquele
que possui o conhecimento – mas uma distinção, o amigo do sábio, e levando em
conta a célebre frase socrática: “só sei que nada sei”, que demonstra a busca
incessante do conhecimento sem nunca alcançá-lo por completo, podemos afirmar
que:
O mestre é aquele que mostra o caminho do
conhecimento, mas que não o tem consigo. O mestre é o exemplo de que a aquisição do
conhecimento é algo em permanente construção. E neste processo do conhecimento é importante
a confluência da doação do mestre em mostrar o caminho e a vontade do discípulo
em buscar a verdade.
4-Acerca da
contribuição que o conhecimento filosófico fornece para a formulação de novas
teorias da educação, as doutrinas filosóficas fornecem o suporte teórico para
as reflexões sobre os fundamentos da educação, obrigando uma constante visita
aos textos clássicos da filosofia.
Conforme
Merleau-Ponty, não existe passado para a filosofia, todas as filosofias, se são
filosofias, dialogam numa mesma temporalidade, o que possibilita uma franca
troca entre as teorias da educação e as diversas doutrinas filosóficas.
5-A palavra
grega Paideia, que pode ser traduzida tanto por formação quanto por educação ou
conhecimento, teve várias interpretações ao longo da História da Filosofia. Mas
segundo Werner Jaeger, Paideia constitui-se na formação integral do homem,
levando em consideração seus aspectos físicos e intelectuais.
Paideia não
pode ser vista apenas como educação racional ou exercício do logos, mas como um
processo que leva em consideração todos os demais aspectos do homem.
6- “Se
formos buscar homens de boa constituição física e intelectual, para os
educarmos nestes estudos e treinos, a própria justiça não terá nada a
censurar-nos, e salvaremos a cidade e a constituição”. [República, 536b]
Segundo essa passagem da República, a cidadania pressupõe uma certa Paideia ou
formação que leve em consideração os aspectos físicos e intelectuais.
7- Kant
inicia o seu texto “Resposta à pergunta: que é esclarecimento (Aufklärung)?”
declarando: “Esclarecimento [Aufklarüng] é a saída do homem de sua menoridade,
do qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de
seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado
dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas
na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.
Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema
do esclarecimento”. (KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento
(Aufklarüng)? In: Textos Seletos. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 100).
Segundo Kant o esclarecimento se alicerça na decisão do indivíduo em transpor sua vontade em
deliberar por si mesmo e o problema para o entendimento não está na esfera
da razão, mas na ausência da firme determinação em buscar o conhecimento por si
mesmo e a menoridade racional é uma segunda natureza para o homem, que aceita a
dominação racional por outro.
8- No
pensamento rousseauniano, a educação está intimamente vinculada ao projeto
cívico e a criança para Rousseau é uma
espécie de pequeno homem e não um homem incompleto. A educação retira o homem do estado de
natureza e o torna membro da sociedade civil.
9- Segundo
Rousseau a relação processo educativo, civismo e moralidade, fornece
os subsídios morais para o novo cidadão. A ação política exige uma formação moral que é
dada pela educação.
10- Em
“Educação Após Auschwitz” Theodor Adorno diz: “Tudo isso tem a ver com um
pretenso ideal que desempenha um papel relevante na educação tradicional em
geral: a severidade. Esta pode até mesmo remeter a uma afirmativa de Nietzsche,
por mais humilhante que seja e embora ele na verdade pensasse em outra coisa.
Lembro que durante o processo sobre Auschwitz, em um de seus acessos, o
terrível Boger culminou num elogio à educação baseada na força e voltada à
disciplina. Ela seria necessária para constituir o tipo de homem que lhe
parecia adequado. Essa ideia educacional da severidade, em que irrefletidamente
muitos podem até acreditar, é totalmente equivocada. (ADORNO, Theodor. Educação
Após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz & Terra,
2000.)
A partir
deste texto podemos observar que:
Resistir ao
medo, não demonstrar a dor, enfim, ser rijo, não implica necessariamente em uma
boa formação e a exteriorização do medo e da dor deve ser valorizada na
formação do indivíduo.
11- Tendo em
vista as críticas de Adorno sobre a educação, problema este que gerou
Auschwitz, e transpondo-as para o nosso tempo observamos que a educação e o esclarecimento ainda podem
evitar o aparecimento de genocidas pois afetividade,
paciência e tolerância não são demonstrações de fraqueza.
12- Tendo em
vista a LDB 5692/71, gestada durante o regime militar, que preconizava a
educação para o mundo do trabalho e a LDB 9394/96, que preconiza uma formação
voltada para a cidadania, a LDB 9394/96 não exclui uma formação técnica para o
jovem se inserir no mercado de trabalho, mas alia a essa formação os conteúdos
necessários para o exercício da cidadania
e é possível descortinar pela LDB 9394/96 que, no bojo das lutas
democráticas contemporâneas, um país deve se formar, primeiramente, por
cidadãos e não apenas pela mão de obra altamente qualificada disponibilizada ao
mercado.
13- Podermos
observar no Brasil uma crescente participação das mulheres na economia, no
governo e nas esferas decisórias de um modo geral. Porém, estamos muito
distante da situação ideal, visto que as mulheres não perfazem uma participação
proporcional numericamente. Isso nos leva a questionar a que se deve essa baixa
participação. Conforme as análises de Quentin Skinner, Phillip Pettit, Carole
Paterman, que fazem essa crítica tentando conciliar o republicanismo, o
feminismo e o acesso às instituições, poderíamos afirmar que uma reflexão
filosófica que busca superar esse quadro deveria se pautar por: refletir e
discutir a participação política para além da questão de gênero e pensar no modo de organização e abertura das
instituições políticas em face das demandas do cidadão.
Bons Estudos!
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