quarta-feira, 20 de abril de 2016

Filosofia da Educação








Mênon: — Seja, Sócrates! Entretanto, o que é que te leva a dizer que nada aprendemos e que o que chamamos de saber nada mais é do que recordação? Poderias provar-me isso?

Sócrates: — Não faz muito, excelente Mênon, que te chamei de habilidoso! Perguntas se te posso ensinar, quando agora mesmo afirmei claramente que não há ensino, mas apenas reminiscência; estás procurando precipitar-me em contradição comigo mesmo!

Mênon: — Não, por Zeus, caro Sócrates! Não foi com essa intenção que fiz a pergunta, mas apenas levado pelo hábito. Todavia, se te é possível mostrar-me de qualquer modo que as coisas de fato se passam assim como o dizes, demonstra-mo, pois esse é o meu desejo!

Sócrates: — Não é uma tarefa fácil o que pedes; fá-la-ei, entretanto, de boa vontade, por se tratar de ti. Chama a qualquer um dos escravos que te acompanham, qualquer um que queiras, a fim de que por meio dele eu possa fazer a demonstração que pedes.

 Mênon: — Com prazer. (Dirigindo-se a um de seus escravos moços): Aproxima-te!

Sócrates: — Ele é grego e fala grego?

Mênon: — Sim; nasceu em minha casa.

Sócrates: — Então, caro Mênon, presta bem atenção, e examina com cuidado se o que ele faz com meu auxílio é recordar-se ou aprender.

Mênon: — Observarei com cuidado.
 (Diálogos de Platão – Mênon)


1-A partir do texto citado, é CORRETO afirmar que:

no processo de conhecimento denominado maiêutica, a pergunta e a resposta têm importância equivalente.

2-Nas modernas pesquisas sobre o papel e o lugar dos Sofistas na filosofia grega, principalmente depois dos trabalhos pioneiros de William Guthrie, a valoração desse personagem tem se alterado, principalmente no que tange à critica aos limites da dialética na obtenção da verdade. Acerca disso, podemos afirmar que:
Os sofistas, apesar de serem criticados durante muito tempo nos diversos autores da História da Filosofia, constituíram-se em personagens indispensáveis para o questionamento do processo do conhecimento. Os sofistas, com seus questionamentos pertinentes, apresentam os limites da dialética no seu afã de busca da verdade.

3-Caso seja levado em consideração que o termo filósofo não designa uma identidade – aquele que possui o conhecimento – mas uma distinção, o amigo do sábio, e levando em conta a célebre frase socrática: “só sei que nada sei”, que demonstra a busca incessante do conhecimento sem nunca alcançá-lo por completo, podemos afirmar que:
 O mestre é aquele que mostra o caminho do conhecimento, mas que não o tem consigo.  O mestre é o exemplo de que a aquisição do conhecimento é algo em permanente construção.  E neste processo do conhecimento é importante a confluência da doação do mestre em mostrar o caminho e a vontade do discípulo em buscar a verdade.

4-Acerca da contribuição que o conhecimento filosófico fornece para a formulação de novas teorias da educação, as doutrinas filosóficas fornecem o suporte teórico para as reflexões sobre os fundamentos da educação, obrigando uma constante visita aos textos clássicos da filosofia.
Conforme Merleau-Ponty, não existe passado para a filosofia, todas as filosofias, se são filosofias, dialogam numa mesma temporalidade, o que possibilita uma franca troca entre as teorias da educação e as diversas doutrinas filosóficas.

5-A palavra grega Paideia, que pode ser traduzida tanto por formação quanto por educação ou conhecimento, teve várias interpretações ao longo da História da Filosofia. Mas segundo Werner Jaeger, Paideia constitui-se na formação integral do homem, levando em consideração seus aspectos físicos e intelectuais.
Paideia não pode ser vista apenas como educação racional ou exercício do logos, mas como um processo que leva em consideração todos os demais aspectos do homem.

6- “Se formos buscar homens de boa constituição física e intelectual, para os educarmos nestes estudos e treinos, a própria justiça não terá nada a censurar-nos, e salvaremos a cidade e a constituição”. [República, 536b] Segundo essa passagem da República, a cidadania pressupõe uma certa Paideia ou formação que leve em consideração os aspectos físicos e intelectuais.

7- Kant inicia o seu texto “Resposta à pergunta: que é esclarecimento (Aufklärung)?” declarando: “Esclarecimento [Aufklarüng] é a saída do homem de sua menoridade, do qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento”. (KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento (Aufklarüng)? In: Textos Seletos. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 100).

Segundo Kant o esclarecimento se alicerça na decisão do indivíduo em transpor sua vontade em deliberar por si mesmo  e  o problema para o entendimento não está na esfera da razão, mas na ausência da firme determinação em buscar o conhecimento por si mesmo e a menoridade racional é uma segunda natureza para o homem, que aceita a dominação racional por outro.

8- No pensamento rousseauniano, a educação está intimamente vinculada ao projeto cívico e  a criança para Rousseau é uma espécie de pequeno homem e não um homem incompleto.  A educação retira o homem do estado de natureza e o torna membro da sociedade civil.

9- Segundo Rousseau a relação processo educativo, civismo e moralidade,   fornece os subsídios morais para o novo cidadão.  A ação política exige uma formação moral que é dada pela educação.

10- Em “Educação Após Auschwitz” Theodor Adorno diz: “Tudo isso tem a ver com um pretenso ideal que desempenha um papel relevante na educação tradicional em geral: a severidade. Esta pode até mesmo remeter a uma afirmativa de Nietzsche, por mais humilhante que seja e embora ele na verdade pensasse em outra coisa. Lembro que durante o processo sobre Auschwitz, em um de seus acessos, o terrível Boger culminou num elogio à educação baseada na força e voltada à disciplina. Ela seria necessária para constituir o tipo de homem que lhe parecia adequado. Essa ideia educacional da severidade, em que irrefletidamente muitos podem até acreditar, é totalmente equivocada. (ADORNO, Theodor. Educação Após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2000.)

A partir deste texto podemos observar que:
Resistir ao medo, não demonstrar a dor, enfim, ser rijo, não implica necessariamente em uma boa formação e a exteriorização do medo e da dor deve ser valorizada na formação do indivíduo.

11- Tendo em vista as críticas de Adorno sobre a educação, problema este que gerou Auschwitz, e transpondo-as para o nosso tempo observamos que  a educação e o esclarecimento ainda podem evitar o aparecimento de genocidas  pois afetividade, paciência e tolerância não são demonstrações de fraqueza.

12- Tendo em vista a LDB 5692/71, gestada durante o regime militar, que preconizava a educação para o mundo do trabalho e a LDB 9394/96, que preconiza uma formação voltada para a cidadania, a LDB 9394/96 não exclui uma formação técnica para o jovem se inserir no mercado de trabalho, mas alia a essa formação os conteúdos necessários para o exercício da cidadania  e é possível descortinar pela LDB 9394/96 que, no bojo das lutas democráticas contemporâneas, um país deve se formar, primeiramente, por cidadãos e não apenas pela mão de obra altamente qualificada disponibilizada ao mercado.


13- Podermos observar no Brasil uma crescente participação das mulheres na economia, no governo e nas esferas decisórias de um modo geral. Porém, estamos muito distante da situação ideal, visto que as mulheres não perfazem uma participação proporcional numericamente. Isso nos leva a questionar a que se deve essa baixa participação. Conforme as análises de Quentin Skinner, Phillip Pettit, Carole Paterman, que fazem essa crítica tentando conciliar o republicanismo, o feminismo e o acesso às instituições, poderíamos afirmar que uma reflexão filosófica que busca superar esse quadro deveria se pautar por: refletir e discutir a participação política para além da questão de gênero  e  pensar no modo de organização e abertura das instituições políticas em face das demandas do cidadão.




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