A antropologia clássica consolidou-se, inicialmente, como o
estudo de grupos humanos considerados primitivos, selvagens ou tradicionais.
Tendo em vista o estabelecimento da antropologia social ou
cultural, a pesquisa de campo prolongada, com o método de observação
participante, une a etnografia e a teoria antropológica, ao mesmo tempo em que
questiona a validade da antropologia de gabinete. A antropologia cultural proposta por Boas é
uma crítica ao determinismo biológico.
Quanto às relações entre indivíduo, cultura e comunidade ou
sociedade,sabemos que
Segundo os estudos que apontam para o caráter relacional da
sociedade brasileira, a ideologia moderna não seria sempre dominante no país. O conceito antropológico de cultura surgiu
como forte instrumento no combate ao racismo científico.
O funcionalismo francês penetrou na antropologia britânica
por meio da leitura de autores como Durkheim e Mauss. No âmbito da antropologia
social britânica, com forte viés funcionalista, surgiram trabalhos etnográficos
exemplares, que pautara grande parte dos trabalhos antropológicos realizados no
século XX. Autores como Malinowski, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard
debruçaram-se sobre questões teóricas e metodológicas que até hoje exercem
grande influência na pesquisa antropológica.
O trabalho de Evans-Pritchard realizado entre os Nuer trouxe
importante reflexão acerca das categorias de espaço e tempo. O tempo estrutural
dos Nuer contrapõe-se a noções ocidentais de um tempo cronológico, linearmente
homogêneo. O trabalho de Durkheim e Mauss, acerca das
formas primitivas de classificação, e o estudo de Mauss entre os esquimós têm
grande influência na relativização de categorias de espaço e tempo. As
pesquisas realizadas com grupos africanos serviram de sustentação para classificar
sistemas políticos com base no estado em oposição a sistemas sem estado,
organizados segundo princípios territoriais e de parentesco.
A antropologia vem-se estabelecendo como campo
teóricometodológico cujos conceitos-chave têm estado sujeitos a reavaliações ao
longo do tempo. Com relação às modificações desses conceitos, de todo complexo
à rede de significados, o conceito de cultura vem sofrendo transformações desde
a formulação de Tylor no final do século XIX até a antropologia interpretativa
de Geetz. Marilyn Strathern, partindo de
estudos na Melanésia, alega que o conceito de sociedade está teoricamente
obsoleto e propõe a noção de socialidade para substituí-lo.
É possível que existam outros modos de lógica, mas o
“estruturalismo” é postulado como uma característica universal da psique
humana; ele deveria, assim, manifestar-se em todos os ramos da cultura, em
todos os tipos de sociedade, tanto as mais sofisticadas como as mais
primitivas.
Edmund Leach. A legitimidade de Salomão. São Paulo: Ática, 1983, p.
72.
Quanto ao estruturalismo e as suas críticas vemos que Lévi Strauss diz que é o simbólico que funda a
sociedade.
Para quem é dotado de disposições ajustadas à lógica da
economia dos bens simbólicos, o comportamento generoso não é o resultado de uma
escolha ditada pela liberdade, de uma decisão livre efetuada após uma
deliberação que contém a possibilidade de agir de outra forma; ele aparece como
“a única coisa a fazer”. P. Bourdieu. Marginalia, algumas notas adicionais sobre
o dom. In: Mana, 1996, p. 9.
Com relação ao tema tratado no texto acima, a lógica da economia dos bens simbólicos tratada
por Bourdieu é a mesma lógica descrita por Marcel Mauss no que se refere à
economia da dádiva, ou do dom.
O comportamento
generoso não é totalmente livre, porque a reciprocidade é obrigatória e sujeita
a sanções, caso não ocorra.
A lógica da dádiva
opõe-se à lógica capitalista pelo caráter personalizado das relações
estabelecidas.
As pesquisas relativas ao mundo social das empresas,
realizadas por autores como Renaud Sainsaulieu, Marc Uhalde e Florence Osty,
têm como conceito central o desenvolvimento social das empresas. Com relação ao desenvolvimento social das
empresas, o conceito de desenvolvimento
social designa uma construção permanente da sociedade em um contexto ambiental
aleatório e de exigências econômicas incômodas.
Para o cientista social individual, que se sente parte da
tradição clássica, a ciência social é como um ofício. Como homem que se ocupa
de problemas de substância, esse cientista está entre os que facilmente se
impacientam pelas cansativas e complicadas discussões de método e teoria em
geral, que lhe interrompe, em grande parte, os estudos adequados. É muito
melhor, acredita ele, ter uma exposição, feita por um estudioso, de como está
realizando seu trabalho, do que uma dúzia de codificações de procedimento por
consequência. Somente pela conversação na qual os pensadores experimentados
trocam informações sobre suas formas práticas de trabalho será possível
transmitir ao estudante iniciante um senso útil de método e teoria.
Wright
Mills. A imaginação sociológica. 1980,
p. 211 (com adaptações).
No caso dos estudos acerca das sociedades, há duas atitudes
metodológicas impostas ao pesquisador quando relacionadas ao seu objeto de
estudo: o distanciamento e o estranhamento.
No universo da pesquisa social, o trabalho comparativo,
teórico e(ou) empírico é o componente essencial para o desenvolvimento da ciência
social.
As tendências complementares na direção da divisão e da
fusão, que chamamos de princípios da segmentação, são características muito
evidentes da estrutura política dos Nuer, um dos grupos africanos que habitam a
Etiópia e o Sudão. No caso desse grupo, as linhas de clivagem política são
determinadas principalmente pela ecologia e pela cultura. Um meio ambiente
adverso, junto com os interesses pastoris predominantes, causa uma baixa
densidade e grandes vazios na distribuição das comunidades locais. As
diferenças culturais entre os Nuer e seus vizinhos também causam vários graus
de distanciamento político. Relações ecológicas e culturais frequentemente
combinam-se para produzir uma divisão. Entre os projetos Nuer, a cultura é
homogênea, e são as relações ecológicas que fundamentalmente determinam o
tamanho e a distribuição dos segmentos.
Evans-Pritchard. Os Nuer. 1993, p. 272 (com adaptações).
O autor relaciona a ecologia aos sistemas políticos e realiza
uma apropriação de ideias ecológicas em sua análise.
Para o autor, a
ecologia surge como fator limitante, um plano de fundo da vida no tipo de
sociedade citado no texto.
O autor, mesmo rejeitando o determinismo ambiental, procura a
influência dos fatores ambientais na vida social.
Acerca da construção cultural da natureza, na discussão
acerca das atitudes e relações das diferentes sociedades para com o meio
ambiente natural, a antropologia tem-se ocupado da análise da concepção que os
povos têm da natureza exterior.
Para a antropologia, a natureza pode ser encarada como uma
construção cultural com propriedades, vocações e valorações específicas e o trabalho em equipe e a interdisciplinaridade
têm-se constituído como estratégias utilizadas pelos estudiosos da relação
entre homem e natureza para dar conta da complexidade de tais estudos.
No que se refere à temática da educação ambiental, é percebida como um campo interdisciplinar que
facilita uma visão integrada do meio ambiente.
O Relatório Brundtland de 1987, da Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, retoma o conceito de desenvolvimento
sustentável, dando-lhe a seguinte definição: “desenvolvimento que responde às
necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras
de satisfazer suas próprias necessidades”.
Acerca do conceito de desenvolvimento sustentável proposto
pelo referido relatório, o desenvolvimento sustentável é considerado
desenvolvimento porque não se reduz ao crescimento quantitativo, ao contrário,
faz interagir a qualidade das relações humanas com o ambiente natural.
O Relatório Brundtland percebe o crescimento econômico como
uma necessidade para a redução da pobreza e, consequentemente, para a
minimização dos impactos ambientais pelos pobres.
A dimensão ambiental é
o denominador comum aos conceitos de desenvolvimento sustentável,
ecodesenvolvimento e desenvolvimento durável.
Acerca da dinâmica e da mudança social, as sociedades
empíricas com as quais o antropólogo moderno é confrontado não são sociedades
atemporais, mas sociedades em plena mutação.
Os estudos das mudanças sociais constituem alternativas aos
impasses criados pelas análises com ênfase na construção de modelos e na
análise de sistemas sociais em equilíbrio.
O controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera
simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o
corpo.
Foucault. A Microfísica do poder. 1995, p. 80.
O que Foucault denomina microfísica do poder é a análise que
privilegia a atenção às formas locais de poder, isto é, aquelas que realizam o
controle detalhado e minucioso do corpo.
A coleta e o registro de conhecimentos tradicionais têm sido,
nas últimas décadas, importante base para o avanço na pesquisa de novos
fármacos e cosméticos. Entretanto, a real autoria dos saberes coletados é
constantemente omitida, ou mesmo negada, no âmbito acadêmico, o que demanda
maior regulação social.
O processo de regularização das terras indígenas, instituído
pela Lei n.º 6.001/1973 e pelo Decreto-lei n.º 1.775/1996, é considerado um
exemplo de aplicação dos princípios de participação social e transparência na
gestão de políticas públicas.
Nos últimos anos, no
Brasil, o mito da globalização digital e da democratização do acesso à Internet
prejudicou os processos de participação e controle social da gestão pública
governamental por parte de comunidades tradicionais.
O escravo africano, quando capturado pelos traficantes, não
perdia só a liberdade, com ela iam-se os vínculos familiares e sociais, assim
como os referentes culturais da sua terra. Esse processo de dessocialização que
Orlando Patterson chama morte social era acompanhado por outro de despersonalização.
Uma vez vendido aos europeus, antes de embarcar ou na sua chegada às colônias,
ele era normalmente batizado na religião católica e recebia um nome português.
Já no Brasil, devia aprender a falar uma nova língua, e, aos olhos dos
senhores, passava a ser uma mercadoria, identificado pelo nome do seu
proprietário e pelo nome de nação adscrito pelos traficantes. Ele era também
identificado pelo seu preço no mercado, que variava de acordo com a sua idade,
sexo, condições físicas e habilidades. Em suma, a sua identidade pessoal era
severamente relativizada por outra, gerada e imposta de fora. Em um nível
individual ou no convívio com os parceiros de cativeiro, certos traços de
identidade pessoal podiam ser mantidos, mas, no cotidiano das relações com a
sociedade mais ampla, a nova identidade imposta pela escravatura ia-se
mostrando a forma mais operacional de se apresentar aos outros. Foi assim que,
aos poucos, as denominações meta étnicas de nação foram assumidas pela população
negra (de origem) africana. Paralelamente à dinâmica de identificação externa
exercida pela classe dominante, os africanos e seus descendentes foram
desenvolvendo novas formas de solidariedade e identidade coletiva, na medida em
que as novas circunstâncias o permitiam. No convívio da senzala e dos grupos de
trabalho da cidade, a partir do reconhecimento de semelhanças linguísticas e
comportamentais e da identificação de lugares de procedência comuns ou
próximos, novos grupos mais amplos foram ganhando uma autoconsciência coletiva.
Esse reconhecimento da semelhança com certos indivíduos era reforçado pelo
reconhecimento de diferenças com outros. Nesse sentido, cabe lembrar que, a
partir de certo momento, os escravos recém-chegados já encontravam em
funcionamento redes sociais estruturadas, em que a identidade coletiva de nação
era efetivamente operacional e o processo de assimilação dessa nova identidade
podia produzir-se com mais rapidez.
Luís Nicolau Parés. A Formação do candomblé — História e ritual da
nação jeje na Bahia. Ed. Unicamp (com adaptações).
No Brasil do século XIX, as meta etnias foram formadas a
partir da organização de redes sociais como as irmandades religiosas da Bahia,
que, por sua vez, deram origem aos terreiros de candomblé.
O batismo católico dado aos recém-escravizados tinha por
finalidade a ressocialização dos africanos das colônias do novo mundo.
Os processos antagônicos de percepção das semelhanças e das
diferenças, nas formas de perceber, crer, fazer, aprender e ensinar entre os
indivíduos de uma mesma sociedade, são complementares na construção das
identidades individuais e grupais.
São especialmente as mulheres que produzem a quantidade necessária de alimentos calóricos. As roças, cultivadas em um raio médio de quatro a seis quilômetros da aldeia, são geridas por elas. Cada família possui suas próprias roças, onde se cultiva sobretudo batata-doce, milho, cana-de-açúcar, bananas e mandioca, extremamente ricas em calorias. Algumas frutas tropicais, o algodão e o tabaco também integram o cultivo. Os kayapós fazem uma distinção entre diferentes tipos de terrenos e de florestas. A escolha de um lugar conveniente para o estabelecimento de uma nova aldeia ou de uma nova roça não se faz de modo precipitado. Especialistas examinam cuidadosamente a terra, sua cor e sua composição. A vegetação existente é igualmente tomada em consideração. Os homens têm a dura tarefa de cortar as árvores para a abertura das roças. As árvores são derrubadas no início da estação seca (maio) e permanecem lá alguns meses, até a proximidade da estação chuvosa. A natureza do solo constitui um grande problema na floresta equatorial, pois este é extremamente pobre em minerais. Muitas dessas plantas produzem um néctar que atrai certa espécie de formigas agressivas, inimigas naturais de insetos fitofágicos. Por mais que pareça desordenada, a roça kayapó está organizada segundo uma lógica extremamente estruturada. As mulheres vão todos os dias às roças para recolher legumes. A vida de uma mulher kayapó é um tanto monótona. Mas algumas vezes por ano, geralmente durante a estação seca, pequenos grupos de mulheres vão à floresta para juntar frutas selvagens e óleo de palmeira.
Enciclopédia dos Povos Indígenas do Brasil. Divisão do
trabalho na sociedade kayapó. Instituto Socioambiental (com adaptações).
Nas sociedades tribais onde o trabalho e a produção são
divididos entre gêneros, geralmente as obrigações cotidianas de trabalho de um
gênero não atingem nem substituem aquelas de outro gênero. Culturalmente, as
etnias explicam essa divisão do trabalho por meio de sua mitologia.
A construção cultural
da natureza, na África, diferentemente
do que ocorre no Brasil, os orixás são compreendidos como ancestrais
divinizados da linhagem de um indivíduo ou grupo social e cada um dos entes
divinizados tem determinado poder sobre algum elemento da natureza, o qual
também manipula, sendo esse poder circunscrito a certas questões e não,
infinito.
A crença na infinitude
do manancial da natureza está fundada, em parte, nos mitos do paraíso,
fundamentais nas culturas judaica, cristã e islâmica.
De acordo com a visão antropológica, o ser humano cria deuses
para estabelecer sua própria natureza divina, mas nem todas as religiões podem
ser consideradas, por isso, antropocêntricas. As religiões politeístas têm,
muitas vezes, deuses com aparência de animais ou de seres andrógenos.
O termo terras-pretas
ou terras de cultura, na Amazônia, é utilizado para designar terras que são
cultivadas há muitos séculos e que, apesar disso, não perderam seu vigor, devido
ao uso de formas de cultivo agroflorestais com sistemas de encapoeiramento.
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