sábado, 23 de abril de 2016

Ciências Sociais - Antropologia


A antropologia clássica consolidou-se, inicialmente, como o estudo de grupos humanos considerados primitivos, selvagens ou tradicionais.
Tendo em vista o estabelecimento da antropologia social ou cultural, a pesquisa de campo prolongada, com o método de observação participante, une a etnografia e a teoria antropológica, ao mesmo tempo em que questiona a validade da antropologia de gabinete.  A antropologia cultural proposta por Boas é uma crítica ao determinismo biológico.

Quanto às relações entre indivíduo, cultura e comunidade ou sociedade,sabemos que
Segundo os estudos que apontam para o caráter relacional da sociedade brasileira, a ideologia moderna não seria sempre dominante no país.  O conceito antropológico de cultura surgiu como forte instrumento no combate ao racismo científico.
O funcionalismo francês penetrou na antropologia britânica por meio da leitura de autores como Durkheim e Mauss. No âmbito da antropologia social britânica, com forte viés funcionalista, surgiram trabalhos etnográficos exemplares, que pautara grande parte dos trabalhos antropológicos realizados no século XX. Autores como Malinowski, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard debruçaram-se sobre questões teóricas e metodológicas que até hoje exercem grande influência na pesquisa antropológica.

O trabalho de Evans-Pritchard realizado entre os Nuer trouxe importante reflexão acerca das categorias de espaço e tempo. O tempo estrutural dos Nuer contrapõe-se a noções ocidentais de um tempo cronológico, linearmente homogêneo.   O trabalho de Durkheim e Mauss, acerca das formas primitivas de classificação, e o estudo de Mauss entre os esquimós têm grande influência na relativização de categorias de espaço e tempo.   As pesquisas realizadas com grupos africanos serviram de sustentação para classificar sistemas políticos com base no estado em oposição a sistemas sem estado, organizados segundo princípios territoriais e de parentesco.

A antropologia vem-se estabelecendo como campo teóricometodológico cujos conceitos-chave têm estado sujeitos a reavaliações ao longo do tempo. Com relação às modificações desses conceitos, de todo complexo à rede de significados, o conceito de cultura vem sofrendo transformações desde a formulação de Tylor no final do século XIX até a antropologia interpretativa de Geetz.  Marilyn Strathern, partindo de estudos na Melanésia, alega que o conceito de sociedade está teoricamente obsoleto e propõe a noção de socialidade para substituí-lo.
É possível que existam outros modos de lógica, mas o “estruturalismo” é postulado como uma característica universal da psique humana; ele deveria, assim, manifestar-se em todos os ramos da cultura, em todos os tipos de sociedade, tanto as mais sofisticadas como as mais primitivas. 

Edmund Leach. A legitimidade de Salomão. São Paulo: Ática, 1983, p. 72.

Quanto ao estruturalismo e as suas críticas vemos que  Lévi Strauss diz que é o simbólico que funda a sociedade.
Para quem é dotado de disposições ajustadas à lógica da economia dos bens simbólicos, o comportamento generoso não é o resultado de uma escolha ditada pela liberdade, de uma decisão livre efetuada após uma deliberação que contém a possibilidade de agir de outra forma; ele aparece como “a única coisa a fazer”. P. Bourdieu. Marginalia, algumas notas adicionais sobre o dom. In: Mana, 1996, p. 9.
Com relação ao tema tratado no texto acima,  a  lógica da economia dos bens simbólicos tratada por Bourdieu é a mesma lógica descrita por Marcel Mauss no que se refere à economia da dádiva, ou do dom.
 O comportamento generoso não é totalmente livre, porque a reciprocidade é obrigatória e sujeita a sanções, caso não ocorra.
 A lógica da dádiva opõe-se à lógica capitalista pelo caráter personalizado das relações estabelecidas.

As pesquisas relativas ao mundo social das empresas, realizadas por autores como Renaud Sainsaulieu, Marc Uhalde e Florence Osty, têm como conceito central o desenvolvimento social das empresas.  Com relação ao desenvolvimento social das empresas, o  conceito de desenvolvimento social designa uma construção permanente da sociedade em um contexto ambiental aleatório e de exigências econômicas incômodas.

Para o cientista social individual, que se sente parte da tradição clássica, a ciência social é como um ofício. Como homem que se ocupa de problemas de substância, esse cientista está entre os que facilmente se impacientam pelas cansativas e complicadas discussões de método e teoria em geral, que lhe interrompe, em grande parte, os estudos adequados. É muito melhor, acredita ele, ter uma exposição, feita por um estudioso, de como está realizando seu trabalho, do que uma dúzia de codificações de procedimento por consequência. Somente pela conversação na qual os pensadores experimentados trocam informações sobre suas formas práticas de trabalho será possível transmitir ao estudante iniciante um senso útil de método e teoria. 

Wright Mills.  A imaginação sociológica. 1980, p. 211 (com adaptações).

No caso dos estudos acerca das sociedades, há duas atitudes metodológicas impostas ao pesquisador quando relacionadas ao seu objeto de estudo: o distanciamento e o estranhamento.
No universo da pesquisa social, o trabalho comparativo, teórico e(ou) empírico é o componente essencial para o desenvolvimento da ciência social.
As tendências complementares na direção da divisão e da fusão, que chamamos de princípios da segmentação, são características muito evidentes da estrutura política dos Nuer, um dos grupos africanos que habitam a Etiópia e o Sudão. No caso desse grupo, as linhas de clivagem política são determinadas principalmente pela ecologia e pela cultura. Um meio ambiente adverso, junto com os interesses pastoris predominantes, causa uma baixa densidade e grandes vazios na distribuição das comunidades locais. As diferenças culturais entre os Nuer e seus vizinhos também causam vários graus de distanciamento político. Relações ecológicas e culturais frequentemente combinam-se para produzir uma divisão. Entre os projetos Nuer, a cultura é homogênea, e são as relações ecológicas que fundamentalmente determinam o tamanho e a distribuição dos segmentos.  

Evans-Pritchard. Os Nuer. 1993, p. 272 (com adaptações).

O autor relaciona a ecologia aos sistemas políticos e realiza uma apropriação de ideias ecológicas em sua análise.
 Para o autor, a ecologia surge como fator limitante, um plano de fundo da vida no tipo de sociedade citado no texto.
O autor, mesmo rejeitando o determinismo ambiental, procura a influência dos fatores ambientais na vida social.

Acerca da construção cultural da natureza, na discussão acerca das atitudes e relações das diferentes sociedades para com o meio ambiente natural, a antropologia tem-se ocupado da análise da concepção que os povos têm da natureza exterior.
Para a antropologia, a natureza pode ser encarada como uma construção cultural com propriedades, vocações e valorações específicas  e  o  trabalho em equipe e a interdisciplinaridade têm-se constituído como estratégias utilizadas pelos estudiosos da relação entre homem e natureza para dar conta da complexidade de tais estudos.
No que se refere à temática da educação ambiental,  é percebida como um campo interdisciplinar que facilita uma visão integrada do meio ambiente.

O Relatório Brundtland de 1987, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, retoma o conceito de desenvolvimento sustentável, dando-lhe a seguinte definição: “desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”.

Acerca do conceito de desenvolvimento sustentável proposto pelo referido relatório,   o desenvolvimento sustentável é considerado desenvolvimento porque não se reduz ao crescimento quantitativo, ao contrário, faz interagir a qualidade das relações humanas com o ambiente natural.

O Relatório Brundtland percebe o crescimento econômico como uma necessidade para a redução da pobreza e, consequentemente, para a minimização dos impactos ambientais pelos pobres.
 A dimensão ambiental é o denominador comum aos conceitos de desenvolvimento sustentável, ecodesenvolvimento e desenvolvimento durável.
Acerca da dinâmica e da mudança social, as sociedades empíricas com as quais o antropólogo moderno é confrontado não são sociedades atemporais, mas sociedades em plena mutação.
Os estudos das mudanças sociais constituem alternativas aos impasses criados pelas análises com ênfase na construção de modelos e na análise de sistemas sociais em equilíbrio.

O controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. 

Foucault. A Microfísica do poder. 1995, p. 80.

O que Foucault denomina microfísica do poder é a análise que privilegia a atenção às formas locais de poder, isto é, aquelas que realizam o controle detalhado e minucioso do corpo.

A coleta e o registro de conhecimentos tradicionais têm sido, nas últimas décadas, importante base para o avanço na pesquisa de novos fármacos e cosméticos. Entretanto, a real autoria dos saberes coletados é constantemente omitida, ou mesmo negada, no âmbito acadêmico, o que demanda maior regulação social.
O processo de regularização das terras indígenas, instituído pela Lei n.º 6.001/1973 e pelo Decreto-lei n.º 1.775/1996, é considerado um exemplo de aplicação dos princípios de participação social e transparência na gestão de políticas públicas.
 Nos últimos anos, no Brasil, o mito da globalização digital e da democratização do acesso à Internet prejudicou os processos de participação e controle social da gestão pública governamental por parte de comunidades tradicionais.

O escravo africano, quando capturado pelos traficantes, não perdia só a liberdade, com ela iam-se os vínculos familiares e sociais, assim como os referentes culturais da sua terra. Esse processo de dessocialização que Orlando Patterson chama morte social era acompanhado por outro de despersonalização. Uma vez vendido aos europeus, antes de embarcar ou na sua chegada às colônias, ele era normalmente batizado na religião católica e recebia um nome português. Já no Brasil, devia aprender a falar uma nova língua, e, aos olhos dos senhores, passava a ser uma mercadoria, identificado pelo nome do seu proprietário e pelo nome de nação adscrito pelos traficantes. Ele era também identificado pelo seu preço no mercado, que variava de acordo com a sua idade, sexo, condições físicas e habilidades. Em suma, a sua identidade pessoal era severamente relativizada por outra, gerada e imposta de fora. Em um nível individual ou no convívio com os parceiros de cativeiro, certos traços de identidade pessoal podiam ser mantidos, mas, no cotidiano das relações com a sociedade mais ampla, a nova identidade imposta pela escravatura ia-se mostrando a forma mais operacional de se apresentar aos outros. Foi assim que, aos poucos, as denominações meta étnicas de nação foram assumidas pela população negra (de origem) africana. Paralelamente à dinâmica de identificação externa exercida pela classe dominante, os africanos e seus descendentes foram desenvolvendo novas formas de solidariedade e identidade coletiva, na medida em que as novas circunstâncias o permitiam. No convívio da senzala e dos grupos de trabalho da cidade, a partir do reconhecimento de semelhanças linguísticas e comportamentais e da identificação de lugares de procedência comuns ou próximos, novos grupos mais amplos foram ganhando uma autoconsciência coletiva. Esse reconhecimento da semelhança com certos indivíduos era reforçado pelo reconhecimento de diferenças com outros. Nesse sentido, cabe lembrar que, a partir de certo momento, os escravos recém-chegados já encontravam em funcionamento redes sociais estruturadas, em que a identidade coletiva de nação era efetivamente operacional e o processo de assimilação dessa nova identidade podia produzir-se com mais rapidez. 

Luís Nicolau Parés.  A Formação do candomblé — História e ritual da nação jeje na Bahia. Ed. Unicamp (com adaptações).

No Brasil do século XIX, as meta etnias foram formadas a partir da organização de redes sociais como as irmandades religiosas da Bahia, que, por sua vez, deram origem aos terreiros de candomblé.

O batismo católico dado aos recém-escravizados tinha por finalidade a ressocialização dos africanos das colônias do novo mundo.

Os processos antagônicos de percepção das semelhanças e das diferenças, nas formas de perceber, crer, fazer, aprender e ensinar entre os indivíduos de uma mesma sociedade, são complementares na construção das identidades individuais e grupais.

São especialmente as mulheres que produzem a quantidade necessária de alimentos calóricos. As roças, cultivadas em um raio médio de quatro a seis quilômetros da aldeia, são geridas por elas. Cada família possui suas próprias roças, onde se cultiva sobretudo batata-doce, milho, cana-de-açúcar, bananas e mandioca, extremamente ricas em calorias. Algumas frutas tropicais, o algodão e o tabaco também integram o cultivo. Os kayapós fazem uma distinção entre diferentes tipos de terrenos e de florestas. A escolha de um lugar conveniente para o estabelecimento de uma nova aldeia ou de uma nova roça não se faz de modo precipitado. Especialistas examinam cuidadosamente a terra, sua cor e sua composição. A vegetação existente é igualmente tomada em consideração. Os homens têm a dura tarefa de cortar as árvores para a abertura das roças. As árvores são derrubadas no início da estação seca (maio) e permanecem lá alguns meses, até a proximidade da estação chuvosa. A natureza do solo constitui um grande problema na floresta equatorial, pois este é extremamente pobre em minerais. Muitas dessas plantas produzem um néctar que atrai certa espécie de formigas agressivas, inimigas naturais de insetos fitofágicos. Por mais que pareça desordenada, a roça kayapó está organizada segundo uma lógica extremamente estruturada. As mulheres vão todos os dias às roças para recolher legumes. A vida de uma mulher kayapó é um tanto monótona. Mas algumas vezes por ano, geralmente durante a estação seca, pequenos grupos de mulheres vão à floresta para juntar frutas selvagens e óleo de palmeira.

Enciclopédia dos Povos Indígenas do Brasil. Divisão do trabalho na sociedade kayapó. Instituto Socioambiental (com adaptações).

Nas sociedades tribais onde o trabalho e a produção são divididos entre gêneros, geralmente as obrigações cotidianas de trabalho de um gênero não atingem nem substituem aquelas de outro gênero. Culturalmente, as etnias explicam essa divisão do trabalho por meio de sua mitologia.

A  construção cultural da natureza,  na África, diferentemente do que ocorre no Brasil, os orixás são compreendidos como ancestrais divinizados da linhagem de um indivíduo ou grupo social e cada um dos entes divinizados tem determinado poder sobre algum elemento da natureza, o qual também manipula, sendo esse poder circunscrito a certas questões e não, infinito.

A crença na infinitude do manancial da natureza está fundada, em parte, nos mitos do paraíso, fundamentais nas culturas judaica, cristã e islâmica.
De acordo com a visão antropológica, o ser humano cria deuses para estabelecer sua própria natureza divina, mas nem todas as religiões podem ser consideradas, por isso, antropocêntricas. As religiões politeístas têm, muitas vezes, deuses com aparência de animais ou de seres andrógenos.


O termo terras-pretas ou terras de cultura, na Amazônia, é utilizado para designar terras que são cultivadas há muitos séculos e que, apesar disso, não perderam seu vigor, devido ao uso de formas de cultivo agroflorestais com sistemas de encapoeiramento.

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