segunda-feira, 25 de abril de 2016

Língua Portuguesa

                                                           Fica comigo?


O primeiro namoro passa, o primeiro trabalho, o terceiro apartamento alugado, a quinta decepção. Incontáveis pessoas passam. Até nós passamos: minha identidade de adolescente não chega a conhecer a identidade de avô. Diante de tanta impermanência, buscamos por refúgio. O que será que não passa? Ao valorizar a família e o casamento eterno, na verdade o que desejamos são seres que fiquem. Porque somos inábeis em cultivar relações duradouras, apostamos na conexão sanguínea, que nos obriga à continuidade. Funcionaria como uma garantia: você é meu irmão, não há como me largar. "Você entrou para a família" é sinônimo de "Agora posso contar contigo". É muito mais raro nos posicionarmos de modo elevado para que isso surja com mais gente, então trocamos a grande família da humanidade por uma família que cabe em um churrasco. Isso explica a quantidade de relações nas quais ambos se agridem, mas nunca cogitam a separação – o outro só me atrapalha, mas ele volta pra casa há mais de dez anos... onde vou achar outra pessoa permanente assim? Não apenas nos primeiros beijos, desde a primeira mamada até a última exalação na hora da morte, repetimos o pedido "Fica comigo?". Antes de uma pessoa querer ficar com você, ela quer ser feliz. Ninguém vai conseguir nos entregar o que estamos pedindo. Nós também não parecemos capazes de realmente estar lá pelo outro. Mal estamos lá por nós mesmos! Na romântica melodia I’ll Be Therefor You (Eu Estarei Lá por Você, em tradução livre), atente para a conjugação do verbo no futuro: nossa presença é promessa. Por mais que tenhamos bons amigos e familiares, eles não têm como parar tudo e olhar com calma para a nossa vida. É triste observar como uma pessoa pode sofrer e se enganar por décadas, sem que ninguém ao redor perceba. Estamos irremediavelmente sozinhos. Se ignoramos a realidade da solidão, nos apegamos e tentamos prender o outro. Por outro lado, não podemos evitar: estamos conectados. Se ignoramos a realidade da conexão, nos deprimimos e evitamos os outros. O fato de estarmos conectados coexiste com o fato de estarmos sozinhos, um não reduz o outro. Quando nos comunicamos com a solidão do outro, estamos reconhecendo sua liberdade de ir embora a qualquer momento. O amor aumenta com a solidão. A má notícia é que seremos miseráveis enquanto teimarmos em exigir colo dos outros. A boa notícia é que seremos felizes na exata medida em que abandonarmos a esperança do colo prometido. É como se fizéssemos o voto de ficar para sempre não com alguns, mas com todos os seres - não abandonar, não desistir, beneficiar de mil maneiras. Como você se relacionaria se nunca mais fosse se separar? O segredo da nossa estabilidade é não mais precisar de colo. Claro, podemos dar e receber colo, mas o verdadeiro presente que oferecemos é aquele que o outro já tem: a mesma felicidade que descobrimos, essa de ser como o céu, sempre disponível, ou como a terra, imperturbável, apoiando tudo e todos sem distinção. (Revista Vida Simples. março de 2016.)
                                   
                                                            
                                                 Compreensão do texto

1- Sobre o uso reiterado do verbo “passar” no primeiro parágrafo do texto, pode-se inferir que expressa:   a efemeridade da vida.  

2- Sobre a linguagem usada pelo autor,  verifica-se a presença de linguagem coloquial.  Há um predomínio da linguagem denotativa.  Observa-se o uso da linguagem metafórica.

 3-O termo “colo” usado reiteradamente pelo autor, significa:  apoio, carinho, afeto.

 4- Vemos que as ideias defendidas pelo autor, deixa claro que  a  solidão é uma realidade na vida de qualquer pessoa  e   estarmos conectados ao outro não exclui o fato de estarmos sozinhos e além disso  a  separação faz parte do processo de vida de todas as pessoas.

5- Através do texto, percebe-se, por parte do autor, em relação à solidão, o sentimento de  aceitação. .

 6-Considere a forma verbal negritada no trecho: “[...] eles não têm como parar tudo e olhar com calma para a nossa vida.” (Linhas 17-18) Observamos que a  acentuação gráfica dessa forma verbal,  Verbo “ter” está empregado na 3.ª pessoa do plural, tempo presente do modo indicativo.

 7-Considere a pontuação empregada no trecho: “Por outro lado, não podemos evitar: estamos conectados.” (Linha 20)
 O uso da vírgula é obrigatório, para intercalar o adjunto adverbial antecipado.
 Os dois pontos poderiam ser substituídos pela expressão “uma vez que”.
 Os dois pontos poderiam ser substituídos pela conjunção “porque”.  

 8- a frase: “[...] repetimos o pedido ‘Fica comigo?’” (Linha 13).
Sobre a estrutura da frase acima,   O verbo “ficar” foi usado no imperativo afirmativo e tem como sujeito desinencial a forma “tu”.

9- Considere o termo negritado no trecho: “Se ignorarmos a realidade da conexão, nos deprimimos e evitamos o outro.” (Linhas 20-21)
Esse termo insere no trecho a ideia de  condição.   

10-Considere o trecho: “Apostamos na questão sanguínea, que nos obriga à continuidade.” (Linha 5-6).

 Observamos que o uso do sinal indicativo da crase no trecho.  É Fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a”.  

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