A importância da reflexibilidade no processo de formação docente pode ser compreendida como forma
de superar um modelo de formação com ênfase na racionalidade técnica que tem caracterizado a
formação de professores, também no Brasil. Este é um princípio que tem aparecido com algum destaque
nos documentos que circulam no meio educacional, propondo mudanças na formação docente. No
entanto, Dias e Lopes (2003) defendem que a formação docente por competências, da forma que tem
sido proposta e implementada nas reformas curriculares voltadas para a formação do professor, acaba
por reforçar o modelo da racionalidade técnica. Isso dificulta as possibilidades do professor refletir na e
sobre a ação docente, entendida a reflexão como uma condição essencial para o exercício da docência
como compromisso político.
Compreender como uma pessoa, em especial, o professor,
formou-se, é encontrar relações entre a pluralidade de suas
trocas e vivências internas ou externas nos diversos momentos
de sua vida. Além disso, compreende-se que essa formação
está diretamente relacionada à construção da identidade do ser
professor e, portanto, de si mesmo, na qual o desenvolvimento
dos significados e valores se transforma ao longo de toda a
trajetória de formação pessoal e profissional.
“Para que professores numa sociedade que, há muito, superou não apenas a importância deles na
formação das crianças e dos jovens, mas que também é muito mais ágil e eficaz em trabalhar as
informações? Contrapondo-me a essa corrente de desvalorização profissional do professor e às
concepções que o consideram como simples técnico reprodutor de conhecimentos e / ou monitor de
programas pré-elaborados, tenho investido na formação de professores entendendo que, na sociedade
contemporânea, cada vez se torna mais necessário o seu trabalho como mediação nos processos
constitutivos da cidadania dos alunos, para o que concorre a superação do fracasso e das
desigualdades escolares. O que, parece-se, impõe a necessidade de repensar a formação de
professores” ( PIMENTA, 2005, p. 161).
No caso da educação escolar, constatamos no mundo contemporâneo que, ao crescimento
quantitativo dos sistemas de ensino, não tem correspondido um resultado formativo (qualitativo)
adequado às exigências da população envolvida e às exigências das demandas sociais. O que coloca a
importância de definir a nova identidade profissional do professor. Que professor se faz necessário
para as necessidades formativas em uma escola que colabore para os processos emancipatórios da
população? Que opere o ensino no sentido de incorporar as crianças e os jovens no processo
civilizatório com seus avanços e seus problemas?” (PIMENTA, 2005, p. 164-165).
Possibilitar aos alunos dos cursos de formação de professores o reconhecimento de que, para saber
ensinar, não bastam a experiência e os conhecimentos específicos, fazendo-se necessários os
saberes pedagógicos e didáticos. Os alunos dos cursos de formação de professores devem desenvolver conhecimentos, habilidades,
atitudes e valores que possibilitem a construção permanente dos saberes-fazeres docentes, com base
nas necessidades e desafios que o ensino lhes coloca no cotidiano. Colaborar com os alunos dos cursos de formação de professores para a construção da sua identidade
de professor, considerando, para tanto, que apenas os saberes da experiência não bastam.
“A concepção de ensino e as práticas realizadas pelo professor certamente terão de ser diferenciadas
conforme os objetivos se direcionem à internalização ou a conscientização. Isto significa ter uma
concepção nova da relação existente entre o sujeito socialmente situado e o conhecimento. Significa
entender que aprender não é estar em atitude contemplativa ou absorvente, frente aos dados culturais
da sociedade, e sim estar ativamente envolvido na interpretação e produção destes dados” (CUNHA,
1989, p.31).
“(...) Muitas vezes, a conduta dos professores não está comprometida com a perspectiva de um
efetivo interesse na aprendizagem e desenvolvimento dos educandos. Muitos docentes cumprem o
seu papel mecanicamente, sem investir o necessário para que os resultados de sua atividade sejam
significativos. O cumprimento mecânico da atividade docente serve muito pouco para uma efetiva
aprendizagem e o consequente desenvolvimento do educando”(LUCKESI, 2002, p. 122).
É papel do professor alicerçar sua ação docente na competência técnica, na competência
teórica e no compromisso político, pois, ao tratar sua atividade apenas como mercadoria, pouco
contribuirá para a elevação cultural dos educandos.
Uma educação de qualidade será efetivada se o seu processo de implementação for organizado
política e pedagogicamente para enfrentar, de forma satisfatória, as necessidades da população,
visando a um efetivo exercício da cidadania. O produto final da educação não interessa apenas aos processos produtivos capitalistas e às
políticas liberais e neoliberais. Pelo contrário, deve preparar os educandos para que façam frente
às imposições daí derivadas. Uma opção metodológica comprometida com a educação de qualidade não pode ignorar as
relações entre o método e uma abordagem dialética do processo de ensino-aprendizagem,
correndo-se o risco de ignorar, também, as conexões requeridas entre o método e os objetivos
reais da educação.
“Valorizar a prática não leva a qualquer prática. A prática aqui buscada é aquela contextualizada pela
teoria, de um lado, e pela pesquisa/ensino/extensão, de outro. Ou seja, toda prática deve estar
relacionada com a formação acadêmica, para começar; em seguida, deve estar relacionada com o
desdobramento da cidadania, e, mesmo nesse espaço, não cabe qualquer cidadania, mas aquela
referida ao processo de formação, quer dizer isso: não desvinculada da qualidade formal” (p. 101).
Demo (2006) discute a prática de pesquisa como princípio educativo, defendendo a perspectiva de
união indissolúvel entre teoria/prática. De acordo com a visão do autor, a
prática da pesquisa tem papel fundamental de confronto e fecundação teórica.
“(...) A educação não é apenas um processo institucional e instrucional, seu lado visível, mas
fundamentalmente um investimento formativo do humano, seja na particularidade da relação
pedagógica pessoal, seja no âmbito da relação social coletiva. Por isso, a interação docente é
considerada mediação universal e insubstituível dessa formação, tendo-se em vista a condição da
educabilidade do homem”. As propostas progressistas não se orientam somente em direção à democratização das
oportunidades de ensino, mas também supõem que o próprio trabalho exercido na escola não deva
ser autoritário. O professor deve estar sempre preocupado em partir de onde o aluno se encontra e deve ter a
sensibilidade de não desmerecer sua visão de mundo e suas necessidades fundamentais e visando à superação do individualismo, são estimulados os trabalhos em grupo e as decisões
coletivas a partir do diálogo e da co- responsabilidade.
“A desmistificação mais fundamental, porém, está na crítica à separação artificial entre ensino e
pesquisa. (...) Assim, desmistificar a pesquisa há de significar também o reconhecimento da sua
imisção natural na prática, para além de todas as virtudes teóricas, em particular da sua conexão
necessária com a socialização do conhecimento. Quem ensina carece pesquisar; quem pesquisa
carece ensinar. (...) Pesquisa é processo que deve aparecer em todo trajeto educativo, como princípio
educativo que é, na base de qualquer proposta emancipatória. (...) Desmistificar a pesquisa há de
significar, então, a superação de condições atuais da reprodução do discípulo, comandadas por um
professor que nunca ultrapassou a condição de aluno” (p. 12-17).
“A ação de planejar não pode ser encarada como uma atividade neutra, desvinculada da realidade
sócio-histórica. O planejamento do ensino é um processo que envolve discussões e questões, muitas
vezes esquecidas no dia-a-dia docente, como as finalidades da educação, os princípios que
fundamentam o projeto pedagógico da escola, seus objetivos e os compromissos dos professores com
essas definições” (p.64).
“A questão primordial que hoje se coloca para a metodologia do ensino é a da superação do
apriorismo e do dogmatismo metódico reinante na prática pedagógica, cuja organização não é
realizada a partir dos diferentes grupos sociais que hoje frequentam a escola brasileira.(...) Assim, um
dos desafios didáticos do momento atual é o da concepção de uma metodologia de ensino que
minimize as discriminações sociais, geradas fora da escola, porém refletidas e expressadas na escola
por aqueles que dela participam” (p. 99-100).
“A tendência habitual de situar os diferentes conteúdos de aprendizagem sob a perspectiva
disciplinar tem feito com que a aproximação à aprendizagem se realize segundo eles pertençam à
disciplina ou à área: matemática, língua, música, geografia, etc., criando, ao mesmo tempo, certas
didáticas específicas de cada matéria. Se mudamos de ponto de vista e, em vez de nos fixar na
classificação tradicional dos conteúdos por matéria, consideramo-los segundo a tipologia conceitual,
procedimental e atitudinal, poderemos ver que existe uma maior semelhança na forma de aprendêlos e, portanto, de ensiná-los, pelo fato de serem conceitos, fatos, métodos, procedimentos, atitudes,
etc., e não pelo fato de estarem adstritos a uma ou outra disciplina.” (p.41)
“Mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma presença no mundo, com o mundo e
com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como um ‘não-eu’ se reconhece como ‘si
própria’. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma, que
fala do que faz, mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que
rompe. E é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a
necessidade da ética e se impõe a responsabilidade. A ética se torna inevitável e sua transgressão
possível é um desvalor, jamais uma virtude” (p. 20).
A ação docente encontra grandes desafios em relação ao processo de ensino-aprendizagem e a
construção de uma escola comprometida com a transformação. Analise as proposições a seguir,
considerando a forma como se caracterizam as tarefas de uma escola pública, democrática e de
qualidade, segundo Libâneo (2000).
Proporcionar a todas as crianças e jovens a escolarização básica e gratuita, assegurando a todos
as condições de assimilação dos conhecimentos sistematizados e a cada um o desenvolvimento
de suas capacidades físicas e intelectuais. Assegurar a transmissão e assimilação dos conhecimentos e habilidades que constituem as
matérias de ensino. Assegurar o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais, sobre a base dos
conhecimentos científicos, que formem o pensamento crítico e independente, permitam o
domínio de métodos e técnicas do trabalho intelectual, bem como a aplicação prática dos
conhecimentos na vida escolar e na prática social. Assegurar uma organização interna da escola em que os processos de gestão e administração e os
de participação democrática de todos os elementos envolvidos na vida escolar estejam voltados
para o atendimento da função básica da escola, o processo de ensino/aprendizagem.
O Brasil é um país multiétnico e pluricultural,
portanto, todos devem ser incluídos, e ter
garantido o direito de aprender e de desenvolver
conhecimentos, sem precisar negar a sua
identidade, nem a sua ascendência
étnico/racial. Uma análise cuidadosa à luz
“História e Cultura Afro Brasileira e Africana”
permite afirmar que essa inclusão em prática de
maneira decidida e apropriada no cotidiano da
vida escolar, certamente, estaremos
trabalhando com indicadores da qualidade da
educação, considerando a pluralidade étnica e as características regionais que fazem
parte da realidade brasileira.
“Ensinar requer a plena convicção de que a
transformação é possível porque a história deve
ser encarada como uma possibilidade e não
como um determinismo moldado, pronto e
inalterável. Para isso é preciso desnaturalizar,
tornar evidente as contradições e fazer este
exercício de estranhamento é um dado decisivo
no processo de conhecimento de nossa própria cultura. (...) Conhecimento é poder, poder de
questionar os discursos dominantes”.
Sobre o contexto enunciado, considerando a
importância do “Processo Ensino-aprendizagem
de Educação”, o educador não pode ver a prática
educativa como algo sem importância, ao
contrário, ele deve sempre perseguir um
constante processo de reafirmação dos
valores da educação e o educador não deve barrar a
curiosidade do aluno, pois é de
fundamental relevância o incentivo à sua
imaginação, intuição, senso investigativo,
enfim, sua capacidade de ir além. No Processo didático-pedagógico de
ensinar e aprender, o professor deve
observar hábitos e atitudes prejudiciais
ao trabalho docente, evitando tudo que
possa prejudicar o andamento do próprio
processo e, consequentemente, o
aproveitamento dos discentes.
Estamos diante de uma sociedade exclusiva
na qual o racismo, o sexismo e o preconceito
contra pessoas com deficiência permeiam
práticas e discursos. Isto leva os professores de
classes regulares a representarem a inclusão de
forma confusa, chegando até a serem
reforçados preconceitos; assim na escola, a
ideia de deficiência acaba por sobrepujar as
“necessidades educativas” de cada aluno. O
que garante para um aluno com deficiência a
Inclusão Escolar o direito de participar e de serem
considerados membros ativos no interior
da comunidade escolar.
BIBLIOGRAFIA:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
ZABALA, Antoni. Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (coord.). Repensando a Didática. 27ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2004
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DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12 ed.São Paulo: Cortez, 2006
SEVERINO, Antônio Joaquim. A busca do sentido da formação humana: tarefa da Filosofia da Educação. Educ. e
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DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2003.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Campinas, SP: Papirus, 1989.
PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores: saberes da docência e identidade do professor. In: FAZENDA,
Ivani (Org.). Didática e interdisciplinaridade. 10 ed. Campinas, SP: Papirus, 2005, p. 161-178.
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