Os pais não podem simplesmente terceirizar para
as escolas a responsabilidade de educarem os seus filhos
por Paulo Yokota
Quando se pergunta à população brasileira, em uma pesquisa de opinião, qual
seria o problema fundamental do Brasil, a maioria indica a precariedade da
educação. Os entrevistados costumam apontar que o sistema educacional
brasileiro não é capaz de preparar os jovens para a compreensão de textos
simples, elaboração de cálculos aritméticos de operações básicas, conhecimento
elementar de física e química, e outros fornecidos pelas escolas fundamentais.
Esses conhecimentos são testados em pesquisas internacionais como o PISA
(Programme for International Student Assessment) da OCDE – Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico e coordenado no Brasil pelo INEP –
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. No PISA, os
países asiáticos estão apresentando os melhores resultados, possivelmente
diante do valor atribuído à educação por influência de nomes como o filósofo
Confúcio, que não se restringe ao conhecimento formal, enquanto o Brasil não
apresenta resultados satisfatórios. Certa vez, participava de uma reunião de
pais e professores em uma escola privada brasileira de destaque e notei que
muitos pais expressavam o desejo de ter bons professores, salas de aula com
poucos alunos, mas não se sentiam responsáveis para participarem ativamente das
atividades educacionais, inclusive custeando os seus serviços. Se os pais não
conseguiam entender que esta aritmética não fecha e que a sua aspiração estaria
no campo do milagre, parece difícil que consigam transmitir aos seus filhos o
mínimo de educação. Para eles, a educação dos filhos não se baseia no
aprendizado dos exemplos dados pelos pais. Que esta educação seja prioritária e
ajude a resolver os outros problemas de uma sociedade como a brasileira parece
lógico. No entanto, não se pode pensar que a sua deficiência depende somente
das autoridades. Ela começa com os próprios pais, que não podem simplesmente
terceirizar esta responsabilidade. Para que haja uma mudança neste quadro, é
preciso que a sociedade como um todo esteja convencida de que todos precisam
contribuir para tanto, inclusive elegendo representantes que partilhem desta
convicção e não estejam pensando somente nos seus benefícios pessoais. Sobre a
educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se
tornando disponíveis no Brasil, nota-se que muitos estão se convencendo de que
eles ajudam na sua ascensão social, mesmo sendo precários. O número daqueles
que trabalham para obter o seu sustento e ajudar a sua família, e ao mesmo
tempo se dispõe a fazer um sacrifício adicional frequentando cursos até
noturnos, parece estar aumentando. A demanda por cursos técnicos que elevam
suas habilidades para o bom exercício da profissão está em alta. É tratada como
prioridade tanto no governo como em instituições representativas das empresas.
O mercado observa a carência de pessoal qualificado para elevar a eficiência do
trabalho. Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão
melhorando, a duras penas, a sua distribuição de renda. Mas, para que este
processo de melhoria do bem-estar da população seja sustentável, há que se
conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que permita também o aumento
da parcela da renda destinada à poupança, que vai sustentar os investimentos
indispensáveis. A população que deseja melhores serviços das autoridades
precisa ter a consciência de que uma boa educação, não necessariamente formal,
é fundamental para atender melhor às suas aspirações.
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