quinta-feira, 24 de março de 2016

Didática e Fundamentos da Educação

Didática e Fundamentos da Educação

O estudo de Freire (1997) tem, como temática central, o aspecto da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativo-progressiva em favor da autonomia dos educadores. Segundo esse pensador, para ensinar, é preciso estar atento às exigências do ofício.
Ensino pela pesquisa, no sentido da busca contínua, da indagação, da  reprocura, da constatação e da intervenção.  Respeito aos saberes dos  educandos, uma vez que é necessário respeitar os conhecimentos socialmente construídos pelos alunos na prática comunitária e discutir com eles a razão de ser de alguns desses saberes em relação ao ensino dos conteúdos.  Criticidade, vista como curiosidade, inquietação e cientificidade na aproximação ao objeto cognoscível.

As práticas escolares que se baseiam nas teorias ou propostas de autores como Piaget, Vygotsky, Dewey e Bruner apresentam consonância com o paradigma pós-moderno, por assumirem uma concepção aberta e processual de pensamento.
-Vygotsky   a  ideia de zona de desenvolvimento proximal que abre a possibilidade de novos desenvolvimentos a partir da aprendizagem mediada por outros sujeitos culturais.
 -Bruner  o currículo, em espiral, em que cada fechamento é início de uma nova possibilidade de transformação (um conceito sempre pode ser aprofundado/ampliado - recursividade).
 -Piaget   a desequilibração/reequilibração no processo de desenvolvimento.
- Dewey   a constatação de que, a cada aprendizado, levanta-se um ponto crítico no que diz respeito ao processo contínuo de organizar a atividade e construir o seu significado.

-Um projeto político-pedagógico voltado para construir e assegurar a gestão democrática da escola se caracteriza por sua elaboração coletiva e não se constitui em um agrupamento de projetos individuais, ou em um plano apenas construído dentro de normas técnicas para ser apresentado às autoridades superiores.   É o documento que expressa a cultura e a identidade da escola, com sua (re) criação e desenvolvimento, impregnada de crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua elaboração.

-Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de homem e de sociedade e, conseqüentemente, diferentes tendências a respeito do papel da escola e da aprendizagem.
1. Tendência liberal tradicional   baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração. Tanto a exposição, quanto a análise são feitas pelo professor.
2. Tendência liberal renovada  progressivista.  A ideia de aprender fazendo está sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas.  Acentua-se a importância do trabalho em grupo, não apenas como técnica, mas como condição básica do desenvolvimento mental.
3. Tendência liberal renovada não-diretiva.  Os métodos usuais são dispensados, prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos. Rogers explicita algumas das características do professor facilitador: aceitação da pessoa do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo e ter plena convicção na capacidade de auto desenvolvimento do estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se organizar, utilizando técnicas de sensibilização em que os sentimentos de cada um possam ser expostos, sem ameaças.
4. Tendência liberal tecnicista.  Consistem nos procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições ambientais que assegurem a transmissão/recepção de informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino; daí a importância da tecnologia educacional.
5. Tendência progressista libertadora.  A forma de trabalho educativo é o grupo de discussão ao qual cabe auto gerir a aprendizagem, definindo o conteúdo e a dinâmica das atividades. O professor é um animador que, por princípio, deve adaptar-se às características e ao desenvolvimento próprio de cada grupo.
6. Tendência progressista libertária.  Trata-se de colocar nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida, as atividades e a organização do trabalho no interior da escola. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, ficando o interesse pedagógico na dependência de suas necessidades ou das do grupo.
 7. Tendência progressista crítico social dos conteúdos.  Os métodos dessa tendência não fazem parte, de um saber artificial, depositado a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora.

-Para reconhecer a validade das seqüências didáticas, tendo em vista a concepção sócio interacionista e a atenção à diversidade, é interessante verificar se as atividades propostas se ajustam às orientações pedagógicas relacionadas a essa estratégia didática.
Abordam conteúdos significativos e relacionados aos interesses dos alunos.   Representam desafios que permitam criar zonas de desenvolvimento proximal.   Provocam uma atitude favorável à aprendizagem e a um obstáculo a ser vencido.

No mundo digital e globalizado de hoje, as tecnologias da informação e da comunicação estão presentes em todos os campos do conhecimento. Elas fazem parte da vida cotidiana do cidadão comum, e o domínio de suas linguagens passa a ser condição de inclusão social e cultural. Como a escola e suas tecnologias educacionais são afetados nesse contexto?
A escola precisa estar atenta às novas formas de aprender propiciadas pelas tecnologias da informação e da comunicação criando, assim, novas formas de ensinar.  O boom da tecnologia digital exige mais do que livros didáticos, aulas expositivas e exercícios estruturados para socializar o conhecimento.
Os recursos da tecnologia permitem a utilização de múltiplas formas de acesso ao conhecimento.  O uso da imagem e de outros recursos não lingüísticos trazem novas configurações às aprendizagens. Diferentes modos de representação dos fenômenos científicos e naturais podem contribuir para sua melhor compreensão.   O acesso a materiais informativos diferenciados e a busca ativa de informações via internet permitem a construção de múltiplas visões e representações por meio de hyperlinks e hipermídia.

Estudos e experiências realizadas em escolas com êxito no projeto de inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais na escola regular apontam princípios e fundamentos que consolidam o sucesso da inclusão.
O princípio da identidade é a construção da pessoa humana em todos seus aspectos: afetivo, intelectual, moral e ético. . A sensibilidade estética diz respeito à valorização da diversidade para conviver com as diferenças, com o imprevisível, com os conflitos pessoais e sociais, estimulando a criatividade para a resolução dos problemas e a pluralidade cultural.  A construção de laços de solidariedade, atitudes cooperativas e trabalhos coletivos proporcionam maior aprendizagem para todos.

Chega, ao nosso meio, em 1994, o movimento da inclusão com a divulgação da Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994), sob o patrocínio da UNESCO, cujas linhas de ação visam ao seguinte universo conceitual: “O termo necessidades educacionais especiais refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. As escolas têm de encontrar maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves”. (BRASIL, 1994, p. l7).
O foco da prática escolar deixa de ser a deficiência e passa a centrar-se no aluno e no êxito do processo ensino e aprendizagem.  O conceito da integração sugere o atendimento às diferenças individuais nas classes especiais, salas de recursos ou serviço itinerante, mediante a preparação gradativa do aluno para o ensino comum.  A escola deve adaptar-se às especificidades dos alunos e, não, os alunos às especificidades da escola.

Muitos desafios se interpõem à perspectiva de uma nova relação educação e trabalho.
Articular, de forma não mecânica, o trabalho com a educação infantil e ensino fundamental. Ou seja, o de como fazer do trabalho útil e enquanto valor de uso e produção da vida, a razão da educação.  Integrar o trabalho com a educação dos jovens e adultos, considerando-se que, diferentemente das crianças, a principal atividade deles é ou deveria ser o trabalho. Desenvolver processos educativos na perspectiva da construção da democracia integral, de tal modo que essa se faça presente no processo mesmo da educação.  Educar para atender às necessidades postas pelas profundas e constantes transformações que assolam o mundo do trabalho na atualidade.
Os pensadores pós-modernos lutam hoje contra o paradigma da modernidade que enfatiza a fragmentação e a hiper especialização das ciências, desconhecendo o tecido complexo do mundo (interações múltiplas na construção e transformação da realidade).

O novo paradigma em desenvolvimento – paradigma pós-moderno – tem a complexidade, a interação e a continuidade em aberto como características essenciais de sua estrutura.   A fragmentação do conhecimento curricular é questionada, frente à necessidade de integrar os conhecimentos, tendo em vista a formação de um pensamento capaz de considerar a situação humana no âmago da vida, na terra, no mundo e enfrentar os grandes desafios de nossa época.  O caráter disciplinar do ensino formal dificulta a aprendizagem do aluno, não estimula, o desenvolvimento da inteligência, resolver problemas e estabelecer conexões entre os fatos, conceitos, isto é, de pensar sobre o que está sendo estudado.

Sobre os desafios apontados para a formação de professores para a educação profissional, na atualidade,  a  necessidade de articulação entre pesquisa, ensino e extensão.   A necessidade de estreita articulação com os demais níveis e modalidades (cursos técnicos de nível médio, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas, pós-graduação), bem como dos sistemas de ensino em geral.   A necessidade de qualificação/capacitação (formação inicial e continuada) dos profissionais que trabalham na educação profissional.

A avaliação, para estar a serviço da qualidade educacional, deve, entre outros, cumprir o seu papel de promoção do ensino, o qual irá guiar os passos do educador. Ela precisa ter o caráter de contribuição para a formação do aluno e, não apenas, classificar e medir aprendizagens. Nesse sentido é que a avaliação formativa tem sido assumida no contexto educacional atual.

Permite constatar se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das atividades propostas.  Representa o principal meio por meio do qual o estudante passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo para um estudo sistemático dos conteúdos.   Deixa de ser somente um objeto de certificação da consecução de objetivos, mas também se torna necessária como instrumento de diagnóstico e acompanhamento do processo de aprendizagem.

Meirieu (2005) apresenta um quadro sintético a respeito das tensões fundamentais da atividade pedagógica.  Essas tensões se referem a situações em que o professor precisa decidir, entre duas ou mais possibilidades, qual o caminho a seguir.   O professor deve formar o aluno para surpreender seus impulsos e abandonar a fantasia da onipotência. O professor deve formar o aluno para correr o risco de enfrentar o desconhecido e permitir-lhe viver a aprendizagem como transgressão construtiva.  A instituição escolar deve organizar grupos específicos adequados às necessidades dos alunos e lhes permitir serem tratados no seu nível. A instituição escolar deve implementar situações de trabalho em grupos heterogêneos, a fim de favorecer o enriquecimento recíproco dos alunos e ensinar-lhes a cooperação.  Todo professor deve planejar racionalmente seu trabalho para ter o máximo de garantia de êxito de todos dentro das metas que lhe são atribuídas. Todo professor deve ser capaz de gerir contextos, situações e reações imprevistas, improvisar e tomar decisões na emergência.

Segundo Coll (2000), os conteúdos de ensino não estão condicionados unicamente às disciplinas, mas abrangem outras capacidades, agrupadas, por ele, em conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais.

Os conteúdos conceituais são mais abstratos e demandam compreensão, reflexão, análise e comparação.  As condições necessárias para a aprendizagem dos conteúdos conceituais demandam atividades que desencadeiem um processo de construção pessoal, que privilegie atividades experimentais capazes de acionar processos mentais. Os conteúdos procedimentais envolvem ações ordenadas com um fim, ou seja, direcionadas para realização de um objetivo, e que correspondem ao que se aprende a fazer, fazendo.

Toda didática, por sua configuração e sua finalidade, é obrigatória e intrinsecamente interdisciplinar.  O desenvolvimento da didática implica a relação com diversas disciplinas científicas, como psicologia, sociologia e outras ciências.  A insuficiência da centralização das disciplinas escolares que conduz à necessidade de estabelecer relações com disciplinas de apoio, dentre elas, a didática.   A didática de qualquer disciplina é alimentada e constituída por um conjunto estruturado de elementos procedentes das disciplinas interligadas.


Fontes:


LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.

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