sábado, 26 de dezembro de 2020

AS NOVAS TEORIAS DO COMPORTAMENTO HUMANO SEGUNDO BRONFENBRENNER

 

Urie Bronfenbrenner era um psicólogo americano nascido na Rússia e mais conhecido por sua teoria dos sistemas ecológicos. Seu trabalho com o governo dos Estados Unidos ajudou na formação do programa Head start em 1965.  É importante entender a relação entre indivíduo e contexto na trajetória de desenvolvimento, pois o efeito do contexto deve estar associado aos processos individuais (características pessoais).

Tanto o ambiente como as estruturas intra e interpessoais são importantes contextos de desenvolvimento e esse ocorre, permeado por processos progressivos de interação duradoura entre o organismo biopsicológico, as pessoas, os objetos e símbolos em períodos estendidos de tempo.

Onde os aspectos do meio ambiente mais importantes no curso do crescimento psicológico são, de forma esmagadora, aqueles que têm significado para a pessoa numa dada situação.

A abordagem ecológica do desenvolvimento humano é útil ao permitir que o desenvolvimento possa ser entendido de maneira contextualizada e contemplando a interação dinâmica das quatros dimensões (pessoa, processo, contexto e tempo).

Nesse sentido o desenvolvimento é visto como o conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudanças nas características da pessoa no curso de sua vida.

Essa teoria preconiza que há influência mútua entre os diferentes sistemas na produção do desenvolvimento humano.

  As novas teorias do comportamento humano, e descobertas nas ciências demandam um novo olhar sobre a forma de ver e atuar nos contextos sociais. Dentro desta nova visão, o modelo Ecológico de Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner (1996) vem colaborar com uma visão mais sistêmica, no sentido de integrar os vários contextos que o ser humano se insere, vendo-o como parte de um contexto de inter-relações e não fragmentado, finalizado em seu comportamento, gerando uma separatividade e não contribuindo com ações efetivas que favoreçam uma educação integral: do ser humano como um todo para um mundo global.

A abordagem ecológica proposta por Bronfenbrenner (1996) tem sido utilizada para identificar os processos evolutivos e os múltiplos fatores que influenciam o desenvolvimento humano e a resiliência1 . A abordagem ecológica enfatiza a importância do contexto ambiental, dos processos, da perspectiva temporal e das características pessoais para o desenvolvimento de características de resiliência. A pessoa em desenvolvimento está em interação bidirecional, dinâmica e constante com o ambiente. Bronfenbrenner (1996, p. 6) advoga em sua teoria a importância de compreendermos os ambientes nos quais vivemos nossas tão preciosas vidas para podermos abandonar o individualismo e processos vazios de interação, ou seja, as explicações sobre nossas ações, são encontradas nas interações entre as especificidades de cada ser humano e seus ambientes passados e presentes. A interação entre os seres e os ambientes é seu foco de estudo e compreensão do comportamento humano. Sua máxima é: “Se queremos mudar os comportamentos, é necessário pensar em mudar os ambientes em que os comportamentos estão inseridos”. 

Todo esse pensamento nos leva a refletir sobre a ação humana e seus contextos, que podemos chamar de sistemas, em que o indivíduo é apenas um dos elementos. Bronfenbrenner (1996, p. 5) entende desenvolvimento como “[...] uma mudança duradoura na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com o seu ambiente.” Concebe o ambiente ecológico como uma série de estruturas encaixadas uma dentro da outra, como as camadas de uma cebola, sobrepostas uma sobre as outras. No nível mais interno, ou seja, na primeira camada, encontra-se o ambiente imediato contendo o indivíduo em pleno desenvolvimento em seu lar, na escola, no clube, o qual denominou de microssistema. A segunda camada já reflete a relação, a interação do sujeito com estes meios imediatos, ou seja, o conjunto dos microssistemas, nos quais a pessoa participa, denominou de mesossistema e por fim, a terceira camada, onde estão os eventos, nos quais o sujeito nem está presente e nem participa, mas recebe influência, como por exemplo, as condições de trabalho dos pais, e que chamou de exossistema. 

O macrossistema é o sistema maior, que engloba os valores, ideologias, estilo de vida e organização dos sistemas sociais de uma determinada cultura. Enfim, a abordagem ecológica consiste em um modelo de interconexões ambientais que causam impacto sobre as forças que afetam o crescimento psicológico do ser humano. Além dos níveis acima citados, o autor entende que existe um fenômeno que perpassa todos os níveis, então afirma: Dentro de qualquer cultura ou subcultura, ambientes de um determinado tipo – como as casas, as ruas ou os escritórios – tendem a ser muito semelhante, ao passo que entre as culturas elas são distintamente diferentes. É como se dentro de cada sociedade ou subcultura existisse uma planta, um esquema, para a organização de cada tipo de ambiente. Além disso, este esquema pode ser modificado, resultando em que a estrutura dos ambientes numa sociedade pode ser nitidamente alterada e produzir mudanças correspondentes no comportamento e desenvolvimento. (BRONFENBRENNER, 1996, p. 6).

É sob esta perspectiva que compreendemos a agressão e agressividade neste estudo e que buscaremos suporte na teoria de desenvolvimento de Urie Bronfenbrenner para ajudar os professores a compreenderem suas medidas socioeducativas e refletirem sobre estas ações e seu ambiente no intuito de entender a perspectiva do outro, sob o ponto de vista da sua própria ação. Pois, a criança que comete atos de agressão, de forma constante, está mostrando um déficit na experiência de autoadministrar-se na experiência lúdica e na experiência de jogo. Dessa maneira está mostrando um déficit no espaço que lhe foi dado para mostrar que ela pode. E uma criança, a quem não lhe é permitido mostrar que pode, terá dificuldades de fazer coisas e produzir.

Percebe-se também que a escola se isenta de qualquer culpa referente aos comportamentos agressivos e indisciplinados dos estudantes, assumem que tais comportamentos advêm da falta de estrutura familiar e da ausência dos pais na vida dos educandos ou que não sabem educar nem dar limites, sugerem inclusive cursos para ensinarem a educar seus filhos. Mas porque não os educam em suas salas de aula, já que acreditam possuir a receita para tal, porque têm tanta dificuldade em lidar com as manifestações de comportamento agressivos na escola, já que se acham capacitados para atuarem na disciplina dos estudantes? Há uma visão equivocada dos professores sobre as medidas disciplinares que adotam na escola e os efeitos destas medidas sobre o comportamento dos estudantes. Como foi explicitado no aporte teórico desta pesquisa pela teoria do desenvolvimento humano de Urie Bronfenbrenner: Os contextos, os ambientes influenciam o desenvolvimento e o comportamento humano e que mudando os contextos, mudam-se consequentemente os comportamentos. 

Pautados nesta premissa, acreditamos que um ambiente mais acolhedor, de escuta sensível aos apelos comportamentais dos estudantes, a inserção de sua história de vida, trajetória humana, relação e vínculo com a família e com a professora e colegas poderiam fazer “milagres” no contexto da instituição escolar se a escola estivesse aberta e flexível a compreender a influência dos vários contextos sobre o desenvolvimento e comportamento dos educandos e possibilitasse uma mudança de foco, principalmente no autoritarismo do professor, diluindo este autoritarismo em autoridade dialogada, a rigidez na sala por uma ambiência mais em grupo, com foco na compreensão da história de cada um, por um genuíno interesse pelo seu educando, pelo ser humano que é seu estudante.


Referências:


BRITO, R. C.; KOLLER, S.H. Desenvolvimento humano e redes de apoio social e afetivo. In: Carvalho, A.M. (Org.). O mundo social da criança: natureza e cultura em ação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. p. 115-129 


BRONFENBRENNER, Urie. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

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