domingo, 16 de janeiro de 2022

Alfabetização e letramento

 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

  

Uma descrição do processo pelo qual a escrita se constitui um objeto de conhecimento para a criança, pode tornar-se observável a partir dos trabalhos realizados por E. Ferreiro, em sua obra “A psicogênese da Língua Escrita”, onde nos permite definir cinco níveis sucessivos. 

 1. A interpretação da escrita neste nível demonstra a intenção subjetiva do escritor. 

 2. Cada letra vale como parte de um todo e não tem valor em si mesmo. 

 3. Cada letra vale por uma sílaba. 

 

 4.A criança descobre a necessidade de fazer uma análise que vai mais além da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias. 

 5. A criança compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba. 

 

  A hipótese silábica é um dos níveis caracterizados nas pesquisas da evolução da escrita por Ferreiro e Teberoski.  A criança supera a etapa de uma correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída.  A criança trabalha, pela primeira vez claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala.  Com esta hipótese, a criança dá um salto qualitativo com respeito aos níveis precedentes.  

  A atuação de uma escola comprometida com a Proposta Construtivista, usa escrita espontânea como oportunidade de produção significativa para a reflexão linguística e para constituição da autoria. (O aprendiz-autor).  

  Considerando as diferenças entre ler e escrever, ler e escrever sob a perspectiva de dimensão individual é um conjunto de habilidades, conhecimentos linguísticos e psicológicos.   Ler é um processo de relacionamento entre símbolos escritos e unidades sonoras.  As habilidades e conhecimentos da escrita estendem-se desde a habilidade de simplesmente transcrever sons, até a capacidade de comunicar adequadamente com um leitor em potencial.  Cada uma destas atividades engloba um conjunto de habilidades e conhecimentos diferentes. 

 A alfabetização é considerada como um fenômeno de natureza complexa, multifacetada. Estas facetas referem-se, fundamentalmente à perspectiva:  

Psicológica - Tradicionalmente, esta perspectiva foi denominada pela ênfase nas relações entre inteligência (QI) e alfabetização, consideradas como pré-requisitos para alfabetização.

Psicolinguística -Nesta perspectiva, os estudos voltam para análise dos problemas, tais como características da maturidade e linguística da aprendizagem.

 Linguística - A alfabetização nesta perspectiva é um processo da sequência temporal da fala para sequência espaço-direcional da escrita de transferência, de forma sonora da fala para a forma gráfica de escrita.

Sociolinguística - A alfabetização é vista como um processo estritamente relacionado com o uso social da língua. 

  

  Letramento, é um conjunto de práticas sociais, orais e escritas e está relacionado de modo forte à formação de diferentes campos de conhecimento e das linguagens sociais associadas a diferentes gêneros do discurso.  A relevância da discussão da noção de letramento para a prática pedagógica de alfabetização relaciona-se à formação dos diferentes pressupostos intimamente relacionados pois o discurso construído no cotidiano dos alunos é que são levados para a escola, juntamente com a linguagem social mais os gêneros que a escola tem a oferecer.  


 “O professor alfabetizador para definir a didática mais adequada, precisa estabelecer as metodologias de ação, que conduzem à consecução de objetivos pedagógicos para aquisição da Lectoescrita.”  Procura detectar o nível em que se encontra o aluno para intervir coerentemente no processo de aprendizagem de cada um.  Atinge os alunos de todos os níveis de aprendizagem, desafiando-os para provocar o avanço.   Precisa levar a criança a raciocinar sobre a escrita, criando ambientes e materiais em atos de leitura e escrita.  Provoca a interação entre alunos de diferentes níveis de aprendizagem, principalmente os mais próximos. 

 

 O trabalho com a leitura deve ser diário e há inúmeras possibilidades para que ela possa ser realizada de forma silenciosa e individual.  Em voz alta ( individual ou em grupo).  Propondo atividades de leitura explicitando e preparando os objetivos.  Refletindo sobre as diferentes modalidades e os procedimentos que elas requerem do leitor. 

 

 A descoberta dos “saberes infantis” antes de se saber ler e escrever obteve um valor revolucionário, alterando e transformando as concepções existentes do ensino e aprendizagem da língua escrita.  Em decorrência desta descoberta, os métodos de alfabetização foram questionados e as  relações entre oralidade e escrita foram revistas.  Ocorreu um resgate das práticas sociais e afetivas do uso da língua escrita e seus efeitos sobre os sujeitos envolvidos.  

 

 Quando um professor de alfabetização solicita de seus alunos uma produção de texto, o aluno pode escrever uma palavra e o aluno pode escrever um conjunto de palavras que transmitem um significado dentro de um contexto e dessa maneira o  aluno pode relatar um passeio.

A alfabetização é o processo de aprendizagem onde se desenvolve a habilidade de ler e escrever, já o letramento desenvolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais.

A formação literária dos sujeitos se sustenta na concepção que se tem do papel da literatura na constituição social do indivíduo e da coletividade.  A literatura contribui para desenvolver as capacidades interpretativas amplas dos leitores, as quais favorecem uma socialização mais rica. A escola tem função importante na preservação do patrimônio cultural da infância, uma vez que é mais um espaço de encontro da criança com a linguagem, em sua dimensão lúdica e histórica, o que contribui para a construção da identidade.  Enquanto o sujeito alfabetizado sabe codificar e decodificar o sistema de escrita, o sujeito letrado vai além, sendo capaz de dominar a língua no seu cotidiano, nos mais distintos contextos. 

Pode-se dizer que a qualidade com que uma pessoa domina a leitura e a escrita seja uma diferença essencial entre ser alfabetizado e ser letrado. Ou seja, enquanto aquele que é alfabetizado reconhece o sistema de escrita, o letrado vai além e utiliza a leitura e a escrita nos mais variados contextos, interpreta, compreende e organiza discursos e reflexões.  Os alfabetizados em nível rudimentar são considerados os analfabetos funcionais, ou seja, aqueles que têm dificuldade de se expressar e compreender textos simples ou fazer pequenos cálculos em situações do dia a dia, mesmo conhecendo letras e números.  A alfabetização é um pilar fundamental, ao longo da vida, para o desenvolvimento pleno das crianças. A alfabetização com qualidade é um direito de todas elas. Pessoas que têm um nível insuficiente de alfabetização ficam à margem da sociedade, possuem menos oportunidades, profissionais ou pessoais e não têm acesso aos seus direitos.  O analfabetismo exclui uma parcela da população do acesso às informações mais básicas.


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