ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Uma descrição do processo pelo qual a escrita se constitui um objeto de conhecimento para a criança, pode tornar-se observável a partir dos trabalhos realizados por E. Ferreiro, em sua obra “A psicogênese da Língua Escrita”, onde nos permite definir cinco níveis sucessivos.
1. A interpretação da escrita neste nível demonstra a intenção subjetiva do escritor.
2. Cada letra vale como parte de um todo e não tem valor em si mesmo.
3. Cada letra vale por uma sílaba.
4.A criança descobre a necessidade de fazer uma análise que vai mais além da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias.
5. A criança compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba.
A hipótese silábica é um dos níveis caracterizados nas pesquisas da evolução da escrita por Ferreiro e Teberoski. A criança supera a etapa de uma correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída. A criança trabalha, pela primeira vez claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala. Com esta hipótese, a criança dá um salto qualitativo com respeito aos níveis precedentes.
A atuação de uma escola comprometida com a Proposta Construtivista, usa escrita espontânea como oportunidade de produção significativa para a reflexão linguística e para constituição da autoria. (O aprendiz-autor).
Considerando as diferenças entre ler e escrever, ler e escrever sob a perspectiva de dimensão individual é um conjunto de habilidades, conhecimentos linguísticos e psicológicos. Ler é um processo de relacionamento entre símbolos escritos e unidades sonoras. As habilidades e conhecimentos da escrita estendem-se desde a habilidade de simplesmente transcrever sons, até a capacidade de comunicar adequadamente com um leitor em potencial. Cada uma destas atividades engloba um conjunto de habilidades e conhecimentos diferentes.
A alfabetização é considerada como um fenômeno de natureza complexa, multifacetada. Estas facetas referem-se, fundamentalmente à perspectiva:
Psicológica - Tradicionalmente, esta perspectiva foi denominada pela ênfase nas relações entre inteligência (QI) e alfabetização, consideradas como pré-requisitos para alfabetização.
Psicolinguística -Nesta perspectiva, os estudos voltam para análise dos problemas, tais como características da maturidade e linguística da aprendizagem.
Linguística - A alfabetização nesta perspectiva é um processo da sequência temporal da fala para sequência espaço-direcional da escrita de transferência, de forma sonora da fala para a forma gráfica de escrita.
Sociolinguística - A alfabetização é vista como um processo estritamente relacionado com o uso social da língua.
Letramento, é um conjunto de práticas sociais, orais e escritas e está relacionado de modo forte à formação de diferentes campos de conhecimento e das linguagens sociais associadas a diferentes gêneros do discurso. A relevância da discussão da noção de letramento para a prática pedagógica de alfabetização relaciona-se à formação dos diferentes pressupostos intimamente relacionados pois o discurso construído no cotidiano dos alunos é que são levados para a escola, juntamente com a linguagem social mais os gêneros que a escola tem a oferecer.
“O professor alfabetizador para definir a didática mais adequada, precisa estabelecer as metodologias de ação, que conduzem à consecução de objetivos pedagógicos para aquisição da Lectoescrita.” Procura detectar o nível em que se encontra o aluno para intervir coerentemente no processo de aprendizagem de cada um. Atinge os alunos de todos os níveis de aprendizagem, desafiando-os para provocar o avanço. Precisa levar a criança a raciocinar sobre a escrita, criando ambientes e materiais em atos de leitura e escrita. Provoca a interação entre alunos de diferentes níveis de aprendizagem, principalmente os mais próximos.
O trabalho com a leitura deve ser diário e há inúmeras possibilidades para que ela possa ser realizada de forma silenciosa e individual. Em voz alta ( individual ou em grupo). Propondo atividades de leitura explicitando e preparando os objetivos. Refletindo sobre as diferentes modalidades e os procedimentos que elas requerem do leitor.
A descoberta dos “saberes infantis” antes de se saber ler e escrever obteve um valor revolucionário, alterando e transformando as concepções existentes do ensino e aprendizagem da língua escrita. Em decorrência desta descoberta, os métodos de alfabetização foram questionados e as relações entre oralidade e escrita foram revistas. Ocorreu um resgate das práticas sociais e afetivas do uso da língua escrita e seus efeitos sobre os sujeitos envolvidos.
Quando um professor de alfabetização solicita de seus alunos uma produção de texto, o aluno pode escrever uma palavra e o aluno pode escrever um conjunto de palavras que transmitem um significado dentro de um contexto e dessa maneira o aluno pode relatar um passeio.
A alfabetização é o processo de aprendizagem onde se desenvolve a habilidade de ler e escrever, já o letramento desenvolve o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais.
A formação literária dos sujeitos se sustenta na concepção que se tem do papel da literatura na constituição social do indivíduo e da coletividade. A literatura contribui para desenvolver as capacidades interpretativas amplas dos leitores, as quais favorecem uma socialização mais rica. A escola tem função importante na preservação do patrimônio cultural da infância, uma vez que é mais um espaço de encontro da criança com a linguagem, em sua dimensão lúdica e histórica, o que contribui para a construção da identidade. Enquanto o sujeito alfabetizado sabe codificar e decodificar o sistema de escrita, o sujeito letrado vai além, sendo capaz de dominar a língua no seu cotidiano, nos mais distintos contextos.
Pode-se dizer que a qualidade com que uma pessoa domina a leitura e a escrita seja uma diferença essencial entre ser alfabetizado e ser letrado. Ou seja, enquanto aquele que é alfabetizado reconhece o sistema de escrita, o letrado vai além e utiliza a leitura e a escrita nos mais variados contextos, interpreta, compreende e organiza discursos e reflexões. Os alfabetizados em nível rudimentar são considerados os analfabetos funcionais, ou seja, aqueles que têm dificuldade de se expressar e compreender textos simples ou fazer pequenos cálculos em situações do dia a dia, mesmo conhecendo letras e números. A alfabetização é um pilar fundamental, ao longo da vida, para o desenvolvimento pleno das crianças. A alfabetização com qualidade é um direito de todas elas. Pessoas que têm um nível insuficiente de alfabetização ficam à margem da sociedade, possuem menos oportunidades, profissionais ou pessoais e não têm acesso aos seus direitos. O analfabetismo exclui uma parcela da população do acesso às informações mais básicas.
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