terça-feira, 28 de junho de 2016

A bruxa nos relógios




Não falarei aqui do meu desânimo quanto à situação do país: cansei. Por algum breve tempo vou tirar férias dessa preocupação. Vou me concentrar no possível: os afetos, o trabalho, a vida. Então falo aqui de um tema que me fascina, sobre o qual muito tenho refletido e acabo de escrever um livro: a passagem do tempo. Quando criança, eu achava que no relógio de parede do sobrado de uma de minhas avós, aquele que soava horas, meias horas e quartos de hora que me assustavam nas madrugadas insones, em que eu eventualmente dormia lá, morava uma feiticeira que tricotava freneticamente, com agulhas de metal tique-taque, tique-taque tecendo em longas mantas o tempo da nossa vida. Nessas reflexões e observações, mais uma vez, constatei o que todo mundo sabe: vivemos a idolatria da juventude e do poder; do dinheiro, da beleza física e do prazer. Muitos gostariam de ficar para sempre, embalsamados em seus vinte ou trinta anos. Ou ter nos sessenta “alma jovem”, o que acho muito discutível, pois deve ser bem melhor, ter na maturidade ou na velhice uma alma adequada, o que não significa mofada ou áspera [...] (LUFT, Lya. In: Veja, 23/12/2013, p. 28).

                                                 
                                             Compreendendo o texto

  

A temática predominante do fragmento do texto é  a  transição do tempo.


A  autora exprime, predominantemente, uma relação de subjetividade com a criação do texto. Observamos isso quando ela fala que:

Morava uma feiticeira que tricotava freneticamente.
  O tique-taque, tique-taque tecendo em longas mantas o tempo da nossa vida.  


O texto pode ser considerado:  Crônica poética, pelas imagens criadas e uso de linguagem figurada.


A leitura do texto permite formular hipóteses sobre a temática e a relação com o título.


A frase abaixo apresenta intenção comunicativa da autora, em relação a fatos com marco temporal, de forma figurada.  

 [...] morava uma feiticeira que tricotava freneticamente com agulhas de metal tique-taque, tique-taque tecendo em longas mantas o tempo de nossa vida.  


No enunciado “Deve ser bem melhor ter na maturidade ou na velhice uma alma adequada, o que não significa mofada ou áspera”, pode-se afirmar que:

Há uma sequência de qualificações para o termo “alma”.  

Em “na maturidade ou na velhice”, o elo de coesão “ou” marca uma alternância entre termos da mesma área semântica.   


 No enunciado “Vou me concentrar no possível: os afetos, o trabalho, a vida”, pode-se afirmar que há uma:   Progressão discursiva, construída pela reiteração de termos que acrescentam informações novas.



 No texto, predomina a função Emotiva porque a autora:   Centra-se em si mesma, tratando de suas emoções e lembranças.  

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