Não falarei aqui do meu desânimo quanto à situação do país:
cansei. Por algum breve tempo vou tirar férias dessa preocupação. Vou me
concentrar no possível: os afetos, o trabalho, a vida. Então falo aqui de um
tema que me fascina, sobre o qual muito tenho refletido e acabo de escrever um
livro: a passagem do tempo. Quando criança, eu achava que no relógio de parede
do sobrado de uma de minhas avós, aquele que soava horas, meias horas e quartos
de hora que me assustavam nas madrugadas insones, em que eu eventualmente
dormia lá, morava uma feiticeira que tricotava freneticamente, com agulhas de
metal tique-taque, tique-taque tecendo em longas mantas o tempo da nossa vida.
Nessas reflexões e observações, mais uma vez, constatei o que todo mundo sabe:
vivemos a idolatria da juventude e do poder; do dinheiro, da beleza física e do
prazer. Muitos gostariam de ficar para sempre, embalsamados em seus vinte ou
trinta anos. Ou ter nos sessenta “alma jovem”, o que acho muito discutível,
pois deve ser bem melhor, ter na maturidade ou na velhice uma alma adequada, o
que não significa mofada ou áspera [...] (LUFT, Lya. In: Veja, 23/12/2013, p.
28).
Compreendendo o texto
A temática predominante do fragmento do texto
é a transição do tempo.
A autora exprime,
predominantemente, uma relação de subjetividade com a criação do texto. Observamos
isso quando ela fala que:
Morava uma feiticeira que tricotava
freneticamente.
O
tique-taque, tique-taque tecendo em longas mantas o tempo da nossa vida.
O texto pode ser
considerado: Crônica poética, pelas
imagens criadas e uso de linguagem figurada.
A leitura do texto
permite formular hipóteses sobre a temática e a relação com o título.
A frase abaixo apresenta intenção comunicativa da autora, em
relação a fatos com marco temporal, de forma figurada.
[...] morava uma
feiticeira que tricotava freneticamente com agulhas de metal tique-taque,
tique-taque tecendo em longas mantas o tempo de nossa vida.
No enunciado “Deve ser
bem melhor ter na maturidade ou na velhice uma alma adequada, o que não
significa mofada ou áspera”, pode-se afirmar que:
Há uma sequência de qualificações para o termo
“alma”.
Em “na maturidade ou na velhice”, o elo de
coesão “ou” marca uma alternância entre termos da mesma área semântica.
No enunciado “Vou me
concentrar no possível: os afetos, o trabalho, a vida”, pode-se afirmar que há
uma: Progressão discursiva, construída pela
reiteração de termos que acrescentam informações novas.
No texto, predomina a
função Emotiva porque a autora: Centra-se em si mesma, tratando de suas
emoções e lembranças.
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